EXCLUSIVO! Entrevista com Carla Lopes, figurante de "MIB Internacional" - Engenharia do Cinema
É com imenso prazer que inauguro esse novo quadro no site, onde começarei a apresentar a vocês diversas entrevistas com pessoas envolvidas com o cinema de alguma forma.
E para estreia do quadro, entrevistei a atriz Carla Lopes, que atualmente reside na Inglaterra, em Londres, mas é nascida em Santos. Lá ela trabalha como figurante em diversos longas e projetos pequenos. Mas no último ano ela fez uma participação no Blockbuster “MIB – Internacional”.
Engenharia: Como você adentrou nessa vida de figurações?
Carla: Me formei em teatro no SENAC de Santos, em 2008, e estava planejando trabalhar com figurações do Rio de Janeiro. Até que a minha irmã (que estava em Londres na época) me mostrou um site de brasileiros trabalhando como figurantes na Inglaterra. Então decidi arriscar na “Terra da Rainha”. Não foi fácil! Nos primeiros anos não sabia por onde começar, e mesmo estudando mais de seis anos em uma escola de inglês no Brasil, e com boas notas, não conseguia entender nem uma simples pergunta como “Where you from?” (“De onde você é?”). Sotaques do mundo inteiro faziam das mais simples frases um dilema. Eu já tinha feito alguns trabalhos como figurante no Brasil, como para a cerveja “Itaipava”, para a “Print Rip Surfwear”, também para a Faculdade “Integração”, onde fui faturada em Outdoors, folhetos e um close com uma fala no comercial (“Eu quero uma faculdade com qualidade de ensino”, ainda me lembro… risos), e com a produtora “Black Maria” de São Paulo, através da “Oficina de Modelos by Clo” (onde me formei).
Aviso que é mostrado aos figurantes, sobre as regras antes de iniciar os trabalhos oficialmente (Autor, 2018).
Engenharia: Como você adentrou nesse longa?
Carla: Depois de alguns bons anos, consegui encontrar uma agência séria em Londres, por indicação de um amigo do meu marido. Eles haviam se encontrado de manhã bem cedo no trem (as gravações geralmente se iniciam pela madrugada, no caso do “MIB”, os horários iam de 3:15 até 4h da manhã. Nesse horário passava o ônibus em Londres para nos levar até o estúdio da Warner Bros.). Ele disse que estava indo fazer figuração e logo consegui ser aceita pela agência. Meu primeiro trabalho foi no “Holby City” na BBC, onde comecei a conhecer outros figurantes que deram dicas de outras agências sérias para se cadastrar. Vale destacar que muitas delas também são furadas, onde elas apenas arrancam dinheiro com promessas e propostas falsas. Foi em uma dessas “agências sérias” que consegui a vaga para “MIB – Internacional”.
Engenharia: Como foi o processo de maquiagem?
Carla: Essa foi a parte mais fascinante! Estive no estúdio da Warner Bros. dois meses antes de começarem as gravações. Lá eles me deram um macacão branco de plástico e algo para também cobrir os meus sapatos. Parecia uma astronauta e não terminou por aí, pois me passaram uma coisa verde no rosto até o colo e por final colocaram tipo um “gesso” para tirar o molde do meu rosto para o prostético do meu personagem. Antes de aceitarmos o trabalho, a agência se certificou se possuíamos claustrofobia por esse motivo. Então depois disso, todas as manhãs ficava na cadeira da maquiadora por aproximadamente duas horas para coligar a máscara, a maquiagem e minha pele, para tudo transparecer o mais natural o possível. Comer era uma ginástica, e como não podia retirar a máscara ou a maquiagem como os outros aliens, pois ela era totalmente grudada, precisava comer com a minha “boquinha sexy” da Pink Lady, nome da minha personagem alienígena.
Foto de divulgação do longa com a personagem de Carla, a direita (Imagem: IMDB).
Engenharia: Você teve contato com alguém do elenco principal?
Carla: A Tessa Thompson, que é muito simpática e amigável. Ela pediu para tirar uma foto comigo e com outros alienígenas, e foi a primeira vez que consegui uma foto de algum personagem que havia feito.
O Liam Neeson também é muito amigável. Era sempre preocupado em orientar os figurantes sobre o que estava acontecendo nas cenas, pois muitas vezes não sabíamos. Ele vinha e nos explicava sobre o que era a cena. Muito gente boa. O colocaram para fazer uma cena comigo e a ET (literalmente), não sabia quem era, pois não sou tiete e vivo em outro canto do planeta (estava fazendo o papel perfeito), pois nunca sei quem é quem. Talvez seja por isso que ainda continuo fazendo esses trabalhos, pois não devemos nos aproximar ou tietar atores famosos. Inclusive nossos telefones são recolhidos e deixados em segurança para ser retirado no final do dia. Não podemos coletar nenhum registro do set, muito menos tirar fotos.
O diretor do longa, F. Gary Gray também andava no meio de nós e nos dava “Bom dia!”, e nos agradecia no final do dia. Ainda me lembro quando os maquiadores (que ficavam o dia todo nos estúdios para os retoques) vieram atenciosamente nos retocar, pois ele estava vindo escolher os alienígenas que ele gostaria de “faturar” no seu filme. Ainda me lembro ele apontando e dizendo que o meu alienígena era seu “favorito” e “queria faturar”.
Foto mencionada por Carla, pelo qual foi publicado no Instagram da Atriz Tessa Thompsom (Instagram, 2019)
Engenharia: Quanto tempo duraram esses trabalhos seus no longa?
Carla: Umas três semanas.
Processo de desenvolvimento do prostético, e por fim o resultado visto no filme. (Autor, 2019)
Engenharia: Antes de “MIB – Internacional”, quais foram os outros projetos que você se envolveu?
Carla: Além deste, nos estúdios da Warner Bros., realizei “Aeronauts” (que chega aos cinemas no final do ano) com Felicity Jones e Eddie Redmayne, “Muppets” da Disney, “Big Bad World” na Comedy Central, “The Next Step” do Canada na Netflix, “The Night Manager” (com Hugh Laurie e Tom Hiddleston) da BBC, e inclusive alguns comerciais para BT (empresa de telefonia), banco “Barclays”, “GiffGaff” (telefonia móvel), “Richamond Sausages”, “Weetabix”, Stoptober (uma campanha onde ajuda as pessoas a pararem de fumar) e “Google”. Existe também um outro filme famoso, que não consigo lembrar o nome, pois todos os trabalhos que fazemos há códigos e não os nomes verdadeiros da produção. Só descobrimos do que se trata quando nós estamos nas gravações ou por intermédio de outros figurantes. Porém, para trabalhar em “MIB – Internacional”, declinei convites de figurações para “Homem-Aranha: Longe de Casa” e “Mulher Maravilha 1984”, pois as filmagens eram simultâneas.
Engenharia: Quais seus próximos projetos a serem lançados?
Carla: Como citado anteriormente, o “Aeronauts” da Amazon, que será lançado por aqui em novembro de 2019, mas acredito que nesse tenha que me caçar e pausar em segundos estratégicos, para conseguir me encontrar. Foi um processo muito interessantes também, pois utilizei roupas de época e tive de aprender diversas coisas engraçadas. Essas gravações foram algumas semanas antes ao meu trabalho em “MIB – Internacional”, porém, o lançamento foi posterior. Foi a época que mais trabalhei, pois já estava agendada para ambos os longas.
“MIB – Internacional” está em cartaz nos cinemas brasileiros.
Parabéns pela entrevista