Crítica - O Doutrinador - Engenharia do Cinema
Há certo tempo o cinema nacional tem sido um dos principais percussores da situação política atual para o mundo. O ponto crucial foi “Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro”, que foi lançado um pouco antes das bombas sobre os presidenciáveis Lula, Dilma e afins, estourarem na mídia. O longa acabou se tornando a maior bilheteria do cinema nacional durante um bom tempo, e serviu para ser um dos pontapés iniciais para o povo começar a ver o que realmente importa no Brasil. Eis que dentre uma produção ou outra a qualidade e veracidade de José Padilha não havia conseguido ser batida ou referenciada da devida forma. Eis que chega agora aos cinemas a adaptação das histórias em quadrinhos de Luciano Cunha, “O Doutrinador”, que é o primeiro “super-herói nacional” e chega ao mesmo patamar do citado, mas de outra forma.
A história mostra o policial Miguel (Kiko Pissolato), cuja filha acaba sendo vitima de bala perdida e vem a falecer devido a falta de atendimento decente no SUS. Eis que em meio a diversos protestos do povo contra vários escanda-los de corrupção, e principalmente ao governador Sandro Correa (Eduardo Moscovis), e a enorme sede de vingança daquele, ele acaba assumindo um traje de um verdadeiro justiceiro, que é batizado de “O Doutrinador”, pelo qual tem como único víeis assassinar políticos corruptos.
Graças a enorme crise que nós brasileiros vivemos, é quase inevitável não nos interessarmos pelo andamento da trama logo em seus primeiros cinco minutos de projeção. A direção de Gustavo Bonafé procura deixar tudo sempre bastante movimentado, onde temos Miguel sempre adentro de algum quadro crítico a nossa realidade (apesar da trama se passar em uma cidade fictícia), seja através das inocentações injustas dos corruptos, aos descasos realizados com o povo. No quesito as cenas de ação, elas realmente são muito bem realizadas e sequer parece que havia um orçamento reduzido na produção (o que infelizmente não se pode dizer no efeito de CGI na sequencia final), onde o recurso de slow motion é uma ótima arma ao retratar as sequencia de luta, aos quais a câmera sequer fica parada, mas sempre se movendo junto ao protagonista. Mas felizmente a todo o momento o longa não toma um lado partidário, ele retrata que o sistema é corrupto e apenas isso.
Mas como nem tudo é as mil maravilhas, o principal problema decai em cima do trabalho de edição de Federico Brioni (“O Roubo da Taça”), que acaba deixando algumas soluções um tanto que “em branco”, pois alguns arcos possuem soluções rápidas demais e personagens secundários simplesmente somem da narrativa, sem possuir uma justificativa (não sei se isso tudo será melhor detalhado na série que irá estrear ano que vem, ou não).
Nas atuações devo dizer que Kiko Pissolato é realmente um ator bastante competente em seu trabalho, pois todo o sentimento de amargura, tristeza e indignação é transposto o tempo todo em cena. Fora que ele se sai muito bem nas cenas em que veste o manto do “Doutrinador”, e consegue lembrar e muito o personagem Frank Castle de “O Justiceiro”. Já a hacker vivida por Tainá Medina faz um tipo de atuação na qual em um primeiro momento desconfiamos dela o tempo todo, e isso fortalece o interesse do público na personagem durante a projeção.
“O Doutrinador” chegou na época certa aos cinemas e tem como principal propósito fazer repensarmos as questões aos quais realmente importam no quesito de politica nacional. Afinal de contas, de que adianta focar no M, N, O se o A, B, C, ainda não foi resolvido. RECOMENDO!
Gabriel Fernandes: Engenheiro de Computação, Cineasta, Critico de Cinema e agora Radialista na Rádio RVD, resolveu compartilhar seu conhecimento sobre cinema com todos aqueles que apreciam essa sétima arte.