Crítica - O Irlandês - Engenharia do Cinema
Martin Scorsese é um diretor que dispensa apresentações, assim como os atores Robert De Niro, Al Pacino e Joe Pesci. Em uma era onde a nova geração nunca ficou ciente a tamanha importância destes nomes, foi sábia a decisão da Netflix, em lançar o aguardado longa “O Irlandês”, que junta o quarteto citado, nos cinemas. Sim! Foi estranho ver o logo do serviço streaming, antes do inicio da sessão. Mas confesso, que conferi-lo nas telonas foi uma das mais inesquecíveis e melhores sensações para um cinéfilo.
A história é dividida em três fases temporais da história de Frank Sheeran (De Niro), onde este conta sua vida (já em um asilo), desde quando era um caminhoneiro que trabalhava em paralelo com a mafia, e se envolveu com o famoso chefe do sindicato destes, Jimmy Hoffa (Pacino).
Scorsese se fincou no cinema traçando diversas histórias envolvendo mafia, criminalidade e construção psicológica de personagens. Neste filme, não poderia ser diferente. Desde o primeiro segundo, ele traça um perfil completamente divergente do que estamos acostumados a ver em De Niro: um rapaz que é um capacho, no meio da mafia. Um verdadeiro pau mandado do gangster Russell (Joe Pesci), que possui extrema frieza em suas atitudes. Mas para contar esta história da dupla, desde o principio, foi utilizado um recurso de rejuvenescimento em De Niro e Pesci, que em um primeiro segundo causa estranheza. Mas depois nos acostumamos (e realmente, isso é utilizado muito mais do que em apenas cinco minutos). Independente de tecnologias, a dupla está muito bem e Pesci mais uma vez coloca medo em sua atuação, e De Niro merecidamente terá outra indicação ao Oscar de Ator, por este papel. O tempo inteiro ele convence e de forma natural, com seu personagem que se transforma da água para o vinho, por conta de dinheiro.
O mesmo recurso de rejuvenescimento foi utilizado com Pacino, que sem dúvidas exerceu seu melhor papel no cinema, em anos. Seu Hoffa é humano, mas também imoral em algumas atitudes. Nós compramos o carisma dele, exatamente como o sindicalista fazia com seus seguidores. Vai ser difícil não ver o nome do ator, figurando dentre os indicados ao Oscar de ator coadjuvante, no próximo ano.
Mas muitos questionam a duração de 209 minutos do filme (3h30), se realmente foi necessária. Eu digo que foi! Porque Scorsese utilizou exatamente o recurso citado no terceiro paragrafo, para fazer os espectadores adentrarem nos personagens, e sentirmos a importância de sua história (duvido que essa história sendo contada em 1h50, daria certo). Porém fiquem tranquilos, pois você não acaba sentindo o tempo passar, assim que embarca na trama. Mas quando ela aparenta a cansar, algo acontece e você volta a embarcar novamente
O cuidado que ele possui na retratação da época, na representação da importância religiosa no contexto, assim como o contexto histórico, onde os personagens menos importantes, possuem suas informações com nome, data da morte e causa, apresentadas em suas primeiras cenas, para descargo de consciência da própria narrativa. O recurso funciona como um guia e é bem interessante. Realmente Martin Scorsese faturará seu segundo Oscar de direção, por este trabalho.
“O Irlandês” pode se assemelhar de inicio com “Os Bons Companheiros”, mas a medida que vamos acompanhando a trajetória do personagem de De Niro, vemos que o filme possui sua imagem própria. São 209 minutos que devem ser vistos por quaisquer amantes do cinema!
Obs: O filme está em cartaz no Cine Roxy Iporanga, até quarta-feira, com sessões diárias às 14h45 e 18h45. E entrará no catalogo da Netflix, dia 27 de novembro.
Gabriel Fernandes: Engenheiro de Computação, Cineasta, Critico de Cinema e agora Radialista na Rádio RVD, resolveu compartilhar seu conhecimento sobre cinema com todos aqueles que apreciam essa sétima arte.