Crítica - O Homem Invisível (2020) - Engenharia do Cinema
Há cerca de quatro anos, a Universal Pictures iniciou um projeto chamado “Dark Universe”, que seria uma série de reboots dos seus longas clássicos de monstros. Protagonizados por atores do alto escalão como Tom Cruise, Johnny Depp e Russel Crowe, onde a principal ideia era juntar todos estes em uma super produção (em uma espécie de “Os Vingadores”). Mas tudo foi por água abaixo após o fracasso de bilheteria do longa “A Múmia”, em 2017. Porém o estúdio ainda continua com a ideia de fazer estes filmes, mas com identidade própria e o primeiro desta retomada é “O Homem Invisível” (que seria o personagem de Depp).
A história não possui qualquer ligação com o universo citado, e aqui temos como protagonista Cecilia (Elizabeth Moss), uma mulher que sofre de violência doméstica do seu namorado, Adrian (Oliver Jackson-Cohen). Após ele ter sido encontrado morto, ela descobre que ele continua vivo, mas agora completamente invisível.
Com leves inspirações no clássico escrito por H.G. Wells (também responsável por “Guerra dos Mundos”), o cineasta Leigh Whannell (que assina a direção e o roteiro), procura enaltecer o diferencial da sua narrativa na direção e na mixagem de som. Temos uma história simples (como o original de 1933), mas que opta por trabalhar as pequenas coisas para apostar em sucessivas cenas de sustos (que funcionam, de fato, com direito a divertidos scary-jumps) e que acabam prendendo nossa atenção a todo o momento. Lembra da importância do recurso em “Um Lugar Silencioso”? O efeito é usado perfeitamente aqui também, e é a principal arma do filme (que opta por explicar os fatos nesses recursos, em formas sutis).
Os três primeiros minutos servem para o espectador adentrar na pele de Cecilia, e nesta hora a trilha sonora habitual do gênero é trocada pelos ruídos da personagem na casa. Claro, Moss também é o principal fator para esta cena e todo o longa ter dado certo, pois é uma personagem extremamente difícil e que necessita transpor um enorme esforço psicológico. O longa é sem dúvidas, dela.
Mas antes que você ache que tudo é às mil maravilhas, o roteiro peca um pouco dentre os 60 e 80 minutos, nas atitudes desta (que faz coisas muito aleatórias e burras, em relação a tudo que já havia sido apresentado). Porém após o tempo demarcado, ele volta a ter seu rumo e os descuidos acabam sendo meramente passageiros.
“O Homem Invisível” mostra que ainda existem ótimos cineastas que conseguem tirar excelentes enredos, sem ter de apelar para a mão de produtores. Além de fazer jus à clássica história de H.G. Wells.
Gabriel Fernandes: Engenheiro de Computação, Cineasta, Crítico de Cinema e agora Radialista na Rádio RVD, resolveu compartilhar seu conhecimento sobre cinema com todos aqueles que apreciam essa sétima arte.