Crítica - O Diabo de Cada Dia - Engenharia do Cinema
Lançado pela Netflix com o grande chamariz em cima dos nomes de Tom Holland, Robert Pattinson e Sebastian Stan, “O Diabo de Cada Dia” foi um dos filmes mais impactantes lançados pela plataforma nesta quarentena. Digo isso, pois temos uma narrativa que procurou moldar bastante seus enredos antes de jogar a ação da trama principal.
Imagem: Netflix (Divulgação)
Inspirado no livro de Donald Ray Pollock, a história tem vários arcos que se juntam em uma única trama central (chegando a lembrar o clássico “21 Gramas”), onde, dentre eles, temos um casal de serial killers (Jason Clarke e Riley Keough), um veterano de guerra (Bill Skarsgård) e sua esposa garçonete (Haley Bennett), um policial corrupto (Sebastian Stan), um jovem pastor (Robert Pattinson), um adolescente em rebeldia (Tom Holland) e um jovem casal que é abaldo pela fé excessiva do marido que acredita ser um milagreiro (Harry Melling).
Imagem: Netflix (Divulgação)
Este é o típico filme que tinha tudo para dar errado e ser só mais uma obra no catálogo da Netflix, mas o diretor Antonio Campos (que assina o roteiro com seu irmão Paulo) está ciente da quantidade de protagonistas que ele possui em mãos. Apesar dele fazer nós adentrarmos em todos estes personagens ecléticos nos primeiros 40 minutos de projeção (lembrando que o filme totaliza cerca de 2h18min), ele conseguiu fazer se comprovar algo com maestria: a ótima atuação dramática do ator Tom Holland.
O filme enfoca de uma maneira impressionante a desconstrução do seu personagem e quando lhe colocam em momentos de suspense ficamos impactados com o olhar do ator e como ele consegue nos fazer torcer para ele e ficar cada vez mais impactados com alguns acontecimentos que lhe cercam. Tudo isso acaba sendo acompanhado de uma espécie de metalinguagem, pois, em todos estes arcos, há menções indiretamente a situações religiosas (afinal de contas, estamos falando de um filme cujos personagens interpretam a fé de diferentes formas). O recurso funciona, se você parar e pensar. Porém não se engane, pois estamos falando de um longa bastante forte, impactante e trágico (do nível de você ficar refletindo sobre o que acabou de ver, minutos após o final da projeção).
“O Diabo de Cada Dia” não é um filme de Oscar, mas sim de reflexão sobre o quão nossa fé pode ser questionável, dependendo da nossa índole e fanatismo.
Gabriel Fernandes: Engenheiro de Computação, Cineasta, Crítico de Cinema e agora Radialista na Rádio RVD, resolveu compartilhar seu conhecimento sobre cinema com todos aqueles que apreciam essa sétima arte.