Crítica - Mank (sem spoilers) - Engenharia do Cinema
Este é o típico filme que, desde que vi o anúncio, era necessária a concepção de dois textos. O primeiro é este que vos fala, uma resenha simples e sem spoilers da trama. Já a segunda, é um texto mais aprofundado e explicativo (porque há diversas questões históricas e narrativas, pelas quais não são explanadas facilmente).
Temos mais uma vez a Netflix bancando o sonho de outro cineasta famoso, após ter feito isso com “Roma” (Afonso Cuáron) e “O Irlandês” (Martin Scorsese). Em “Mank“, o serviço foi o único estúdio que resolveu assumir a adaptação do roteiro escrito por Jack Fincher (em plenos anos 70) e agora foi adaptado pelo seu filho, David Fincher.
Imagem: Netflix (Divulgação)
O filme retrata toda a trajetória emblemática do roteirista Herman Mankiewicz (Gary Oldman) que, em pleno anos 40, foi contratado por Orson Welles (Tom Burke) para escrever o roteiro de seu próximo longa. Com constantes problemas de alcoolismo e sua a perna quebrada após um acidente de carro (impossibilitando ele de sair de uma cama facilmente), Herman acaba tendo como sua ajudante e escrivã a jovem Rita (Lilly Collins). Aos poucos nascia um dos mais cultuados longas da história do cinema: “Cidadão Kane“.
Imagem: Netflix (Divulgação)
Como fórmula para representar a trajetória de Mank nos bastidores de Hollywood e o que o motivou a criar determinadas situações mostradas no longa citado, Fincher intercala os momentos aos quais ele escrevia o roteiro com Rita, com diversas situações chaves vividas por este. Seja a arrogância de um Louis B. Mayer (Arliss Howard), em diversas crises enfrentadas pelo estúdio, até mesmo às constantes crises de alcoolismo dele por vários sets (que acabaram queimando bastante ele na indústria), nós entramos na pele do protagonista em todas as situações.
A atuação de Oldman é, se dúvidas, marcante, inclusive é um dos melhores papéis em sua carreira (provavelmente ele será indicado ao Oscar) e realmente fica difícil dele dar espaço para outro nome, conseguir algo marcante em cima dele (apesar do restante do elenco também estar bom).
Mas, o que Fincher faz é realmente uma verdadeira narrativa que remete a um filme gravado em pleno anos 40. Seja nas constantes “manchas de cigarro” (que indicavam a junção das películas nos filmes exibidos no formato), a mixagem de som que remetia as capturas da época e até mesmo às interpretações dos atores! Realmente estamos falando de uma obra que homenageia o cinema e, literalmente, o recria com vigor.
Sem dúvidas que “Mank” será um dos grandes destaques do ano de 2020 e, provavelmente, conquistará vários Oscars, inclusive o primeiro para o cineasta David Fincher.
Gabriel Fernandes: Engenheiro de Computação, Cineasta, Crítico de Cinema e agora Radialista na Rádio RVD, resolveu compartilhar seu conhecimento sobre cinema com todos aqueles que apreciam essa sétima arte.