Crítica - Espiral: O Legado de Jogos Mortais - Engenharia do Cinema
Desde o horrível “Jogos Mortais: Jigsaw“, parecia que a franquia havia se encerrado oficialmente em seu oitavo filme. Então em meados de 2019, o humorista Chris Rock levou para a Lionsgate uma ideia para concepção de um novo longa da franquia. Ele não teria ligação com os outros e funcionaria como uma espécie de reboot, o que agradou os executivos. Após ser adiado em um ano, por conta da pandemia do coronavírus, finalmente chegou aos cinemas “Espiral: O Legado de Jogos Mortais“. Mesmo tendo a direção de um velho conhecido deste universo, Darren Lynn Bousman (que dirigiu o segundo, terceiro e quarto filmes), parece que estamos falando de uma produção realmente distinta das antecessoras.
Imagem: Paris Filmes (Divulgação)
A história tem inicio com um misterioso assassinato brutal de um policial, o que logo se mostra um “renascimento” dos clássicos jogos mortais do serial killer Jigsaw. Com todos os atos sendo feitos com membros de um mesmo departamento policial, e direcionados sempre para o detetive Zeke Banks (Rock), ele acaba se encarregando de liderar as investigações com seu parceiro William Schenk (Max Minghella).
Imagem: Paris Filmes (Divulgação)
Apesar da censura ser 18 anos (pelo quais raramente um filme exibido nos cinemas nacionais, consegue obter), este é um dos capítulos menos violentos da franquia como um todo. Isso se deve a questão do próprio Bousman ser obrigado a editar o longa mais de cinco vezes para não conquistar uma censura máxima nos EUA (o temido NC-17, equivalente ao nosso 18 anos). Com algumas cenas de tortura visivelmente editadas para terem menos violência o possível (já que sequer são mostradas devidamente), e uma trama que é focada mais na investigação ao invés nas cenas de mortes, temos outro diferencial para quem estava cansado de ver a mesma coisa durante anos. E isso acaba realmente divertindo aqueles que procuram um suspense interessante e impactante.
Bebendo demais de uma fonte chamada “Se7en“, o roteiro de Josh Stolberg, Pete Goldfinger e do próprio Chris Rock (que é apenas citado também como produtor executivo), ainda acaba possuindo os mesmos erros dos outros exemplares. Seja com situações sem sentido, arcos porcamente explicados (aos quais poderiam ser resolvidos com uma pericia) e momentos pelos quais demonstram que a delegacia policial só possui “burros” no comando (devido a tamanhas falhas que 100% dos presentes cometem). Os próprios acabam usando os mesmos como “facilitações narrativas”, da mesma maneira dos constantes flashbacks no desfecho, para explicar detalhadamente alguns fatos (que acaba chamando o espectador de desatento, pois às situações ainda estão frescas na mente).
Com relação as atuações, confesso que Rock não consegue ser um bom ator para este tipo de filme. Mesmo sendo um ótimo comediante (e criador da série “Todo Mundo Odeia o Chris“), suas feições e falas sempre soam como forçadas (principalmente seus olhares em cenas dramáticas e fortes). O que não chega a ser a mesma coisa em atores no porte de Max Minghella e Samuel L. Jackson (que estão muito bem, dentro da premissa proposta para seus personagens).
“Espiral: O Legado de Jogos Mortais” mostra que a ideia de Rock pode funcionar e ser trabalhada ainda mais em futuros filmes da franquia, apesar da imagem de Jigsaw como um todo já estar desgastada no cinema e ainda necessitar de mais reinvenções como esta, em cada novo capítulo.
Gabriel Fernandes: Engenheiro de Computação, Cineasta e Critico de Cinema, resolveu compartilhar seu conhecimento sobre cinema com todos aqueles que apreciam essa sétima arte.