Crítica | Pseudo-reboot de 'A Cor Púrpura' atinge todas as cores, mas em nenhuma delas há qualidade - Engenharia do Cinema

publicado em:25/02/24 10:11 PM por: Gabriel Fernandes CríticasHBO GOStreamingTexto

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Em 1985 o cineasta Steven Spielberg se juntou com a humorista Whoppi Goldberg para realizarem um dos títulos mais icônicos daquela década, que foi “A Cor Púrpura”. Inspirado no livro de Alice Walker, a produção foi indicada a 12 Oscars, mas perdeu em todas as categorias. Alguns anos depois, esta mesma história foi levada para os palcos da Broadway e obteve um enorme sucesso.

Em meio a um cenário onde os musicais estão lentamente voltando aos cinemas, com algumas aclamadas peças do gênero sendo trazidas para elas telonas, independentemente se já haviam vindo das mesmas originalmente (como aconteceu com “Meninas Malvadas”), “A Cor Púrpura” também ganhou uma nova roupagem nesta maneira. Porém, como estamos falando de uma obra com assuntos delicados, infelizmente parece que os envolvidos não souberam como conduzir essa história com o devido respeito.

Imagem: Warner Bros Pictures (Divulgação)

Após ser vendida para o arrogante Mister (Colman Domingo), e ser separada de sua irmã Nettie (Halle Bailey), Celie (Fantasia Barrino) se vê como uma escrava e tem sua vida transformada em um pesadelo. Mas após conhecer a cantora Shug Avery (Taraji P. Henson) e a desbocada Sofia (Danielle Brooks), ela passa a descobrir que ainda haverá uma luz neste cenário.

Imagem: Warner Bros Pictures (Divulgação)

O diretor Blitz Bazawule nitidamente sabe como conduzir números musicais, de diversos gêneros, seja os estilos de hip-hop, pop e solos. Mas se tratando de arcos dramáticos, ele realmente não entende como realizar este tipo de dramaturgia. Embora o roteiro de Marcus Gardley não saiba como abordar os personagens, muito menos os deixa interligados com o público de uma forma que possamos se importar com eles.

Um mero exemplo é a própria Sofia, cuja personalidade a transforma em uma antagonista e afasta o espectador de torcer ou querer saber mais sobre ela, pois quando nos deparamos com uma reviravolta dramática em seu arco, não sentimos pena e sim um vazio transbordando em cena.

Já a protagonista interpretada por Barrino (que é uma atriz fraca), literalmente fica apagada por conta da insistência do roteiro em tentar abordar várias histórias e subtramas que estão interligadas com ela. Inclusive, mesmo que seja breve, as participações de Bailey (que continua ótima na atuação e vocal para canções) e Henson são boas, mas o roteiro não as aborda como deveria.

Isso sem mencionar a desconstrução de alguns personagens, como o maldoso Mister, que na pele de Colman Domingo acaba sendo mais um banana, ao invés de um homem cruel e maléfico (totalmente diferente de Danny Glover no original) e seu filho Harpo (Corey Hawkins) sendo um sonso que é constantemente corneado por sua parceira, Sofia. Não existe interesse e bom tratamento para os personagens.

O novo “A Cor Púrpura” é um esquecível reboot, que termina como uma produção cansativa, forçada e por conta das diversas alterações, acaba removendo a alma da história escrita por Alice Walker.



A última modificação foi feita em:abril 4th, 2024 as 09:12


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Engenheiro de Computação, Cineasta e Critico de Cinema, resolveu compartilhar seu conhecimento sobre cinema com todos aqueles que apreciam essa sétima arte.


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