Crítica | Ritas - Engenharia do Cinema

Rita Lee é considerada a Rainha do Rock Brasileiro. Criadora de músicas icônicas e dona de um perfil irreverente, quase sempre gerava polêmicas por conta de seu jeito descontraído.
O documentário “Ritas” abre com um diálogo da cantora explicando, diretamente para a câmera, que havia decidido mudar seu aniversário para 22 de maio. O motivo? Poder comemorar a data junto de Santa Rita de Cássia. Ainda assim, fazia questão de afirmar que não deixaria de ser capricorniana, pois adorava o seu signo.
Aos poucos, a direção de Oswaldo Santana e Karen Harley deixa a narrativa ser conduzida pela melhor pessoa possível para falar sobre a cantora: a própria Rita Lee.
O filme, inspirado no livro “Rita Lee: Uma Autobiografia” de 2016, mescla entrevistas de arquivo, fotos, clipes e sequências gravadas pela artista em 2018 (a pedido da própria Karen), pouco antes de seu quadro de saúde se agravar.
Nestes recortes, vemos as várias faces da artista, que também era poeta, compositora, instrumentista, escritora, eremita e musa. Durante boa parte da trama, é explícito de que seu legado permanece mais vivo do que nunca, e não sobra espaço para a tristeza.
Diferente de “Rita Lee: Mania de Você”, o documentário não traz entrevistas ou depoimentos diretos. Em vez disso, recorre a cenas de programas apresentados por Marília Gabriela e Hebe Camargo, com a própria Rita como convidada. Quando necessário, são usados trechos de entrevistas de terceiros, como Gilberto Gil.
Na trilha sonora, não poderiam faltar os principais sucessos da cantora, como “Alô, Alô Marciano” e “Lança Perfume”, nas quais ela lembra de onde surgiram as ideias para compor essas e outras canções. Também há espaço para parcerias históricas com Elis Regina, Maria Bethânia e João Gilberto.
Entretanto, por se tratar de uma obra voltada ao lado humano, o filme faz questão de mostrar Rita ciente de seus erros. Em passagens sobre sua prisão por porte de drogas, por exemplo, ou decisões pessoais equivocadas, ela não apenas zomba da situação, como também reconhece que não estava certa.
Em relação à sua vida familiar, há breves momentos dedicados ao relacionamento com o marido, Roberto de Carvalho, uma das almas da produção. Rita, em nenhum momento, esconde a paixão e o respeito por ele. Ao mesmo tempo, revela seu lado “rock’n’roll” até mesmo com a própria neta, em um divertido diálogo sobre ela ser “careta demais”.
“Ritas” termina como um documentário alto-astral, que reflete o quanto Rita Lee é e sempre será a Rainha do Rock Brasileiro.
