Crítica - A Mula - Engenharia do Cinema
Durante quase sete anos o vovô Clint Eastwood não deu as caras nas telonas. Desde “Curvas da Vida”, o cineasta optou por ficar atrás das câmeras até então. Realizando longas como o ótimo “Sniper Americano” e o péssimo “15h17: Trem Para Paris”, em seu mais novo filme, batizado de “A Mula”, ele resolveu voltar a atuar como protagonista, além de dirigir e produzi-lo (algo que ele não fazia desde “Gran Torino” , pois, no citado, ele apenas atuou).
Imagem: Warner Bros. Pictures (Divulgação)
Inspirado no artigo do “The New York Times” de Sam Dolnick, Eastwood vive o viciado em trabalho Erin onde, após sua companhia de flores declarar falência, vê sua vida profissional cair em ruínas, assim como sua pessoal. Sem outra saída, ele acaba aceitando o convite de um conhecido para realizar entregas em troca de uma boa quantia em dinheiro. Com uma enorme ingenuidade, ele não sabe que as mesmas são drogas e que seus verdadeiros chefes são traficantes mexicanos.
Imagem: Warner Bros. Pictures (Divulgação)
Assim como “Curvas da Vida”, “A Mula” tem uma pegada mais leve, mesmo se tratando de um tema bastante pesado. Não exito em falar que Eastwood e o roteirista Nick Schenk transformam a narrativa em um longa de suspense policial, com regadas de humor negro e clichês do gênero, onde os espectadores mais inteligentes se questionarão de constantemente de determinadas “facilidades” e “deslizes” no roteiro (não é spoiler, mas serve de exemplo: em determinada cena o antagonista é parado pela polícia, e ele consegue se esquivar deste sem dificuldades, sendo que era visível que no porta malas do carro daquele haviam N pacotes suspeitos). Outro deslize se dá na trama paralela da polícia, que investiga o cartel de drogas, que é comandada pelos personagens de Bradley Cooper e Michael Peña. Ambos são abordados de formas rasas e genéricas, onde apenas o primeiro tem um arco com Eastwood, que consegue salvar a sua participação no longa.
Mas, em contexto geral, como Clint Eastwood já se mostrou um diretor competente, o longa acaba se saindo bem divertido e os erros acabam se superando à medida em que a trama se desenrola, pois o antagonista é facilmente comprado pelo público.
Em sua conclusão, vemos que “A Mula” não é uma volta triunfante de Eastwood em frente as câmeras, mas sim um divertido longa que serve para matarmos a saudade daquele tiozão que marcou o cinema. Que venha “Cry Macho”!
Gabriel Fernandes: Engenheiro de Computação, Cineasta, Crítico de Cinema e agora Radialista na Rádio RVD, resolveu compartilhar seu conhecimento sobre cinema com todos aqueles que apreciam essa sétima arte.