Crítica - A Crônica Francesa - Engenharia do Cinema
Existem certas produções onde renomados cineastas parecem não estar em seus melhores dias, e “A Crônica Francesa” se encaixa neste quesito. Realizado pelo renomado Wes Anderson (“O Grande Hotel Budapeste“) a produção sofreu vários adiamentos por conta da pandemia e finalmente chegou aos cinemas mundiais em uma estreia bastante morna e sem muito alarde. Certamente os envolvidos na mesma estavam cientes que não possuíam o melhor trabalho de Anderson, e que no máximo ele poderia render algumas indicações em aspectos técnicos (por isso que ele foi lançado no Festival de Cannes, e agora nesta época de “possíveis indicados ao Oscar“). Apenas digo que ele conseguiu reunir um renomado elenco, por conta da enorme amizade que ele tem dos mesmos, pois realmente se fosse feito por outro diretor, não teria nem saído do papel neste projeto.
Imagem: 20th Century Studios (Divulgação)
A história se passa durante os anos 60/70, quando o editor-chefe de uma famosa revista francesa, Arthur Howitzer Jr. (Bill Murray) vem a óbito, os jornalistas e funcionários resolvem escrever o obituário do mesmo. Em intermédio a isso, acompanhamos três histórias distintas de matérias que irão para a última edição da revista. A primeira mostra um presidiário (Benicio Del Toro), que acaba conseguindo sucesso mundial com suas pinturas da carcereira (e também sua amante) Simone (Léa Seydoux); A segunda mostra o estudante viciado em xadrez, Zeffirelli (Timothée Chalamet), que entra em constantes conflitos sociopolíticos com Juliette (Lyna Khoudri); A terceira e última mostra o filho de um importante comissário (Mathieu Amalric), que foi sequestrado e acaba mobilizando todo o pelotão de política e até um chef de cozinha (Steve Park), para ajudar no resgate.
Imagem: 20th Century Studios (Divulgação)
Com uma abertura deixando bastante clara sua premissa, vemos que Anderson estava em sua zona de conforto. Com cenários sendo concebidos em stop-motion e com uma tonalidade forte de surrealismo (para apresentar a fictícia cidade francesa onde se passa o longa), nada foge do padrão habitual do diretor. Mas quando ele anuncia ao público “este filme conterá a exibição de três histórias”, vemos que ele já estava preparando o espectador para a futura “confusão” que ele havia armado.
Apesar dele ter apresentado três histórias relativamente interessantes em seu escopo, em nenhuma delas sentimos uma emoção ou até mesmo preocupação com algum dos personagens. Parece que estamos vendo algo bastante caricato e nada fizesse termos um certo interesse em nos absorver naquelas histórias. Afinal, após uma cena de abertura mostrando uma edição com atores como Bill Murray, Owen Wilson, Elizabeth Moss, Tilda Swinton, Frances McDormand e Jeffrey Wright, facilmente ele poderia ter explorado estes personagens em si, ao invés das histórias contadas por eles (que são estranhas e sem vida, como o próprio personagem de Murray diz em determinado ponto, para um dos personagens).
Mas como nem tudo é uma bomba, o aspecto técnico do filme é um dos grandes destaques. Seja a trilha sonora de Alexandre Desplat (constante parceiro de Anderson), a fotografia de Robert D. Yeoman (cujas tomadas que se assemelham com moldes 3D, estão realmente bem feitas) e até mesmo o design de produção (afinal, estamos falando de uma cidade francesa fictícia) e figurino, merecem um certo detalhe de atenção do espectador.
“A Crônica Francesa” é sem dúvidas um dos mais fracos filmes do cineasta Wes Anderson, e mostra que o mesmo realmente não estava em seus melhores dias nos últimos anos.
Gabriel Fernandes: Engenheiro de Computação, Cineasta, Crítico de Cinema, resolveu compartilhar seu conhecimento sobre cinema com todos aqueles que apreciam essa sétima arte.