Crítica - A Baleia - Engenharia do Cinema
Não é novidade que o cineasta Darren Aronofsky sempre pega um assunto, e o aborda da maneira mais psicológica o possível. Seja com o universo das drogas (“Requiém Para um Sonho“), bíblico (“Mãe“) e até mesmo Workholic (“Cisne Negro“). Em “A Baleia“, ele pula para o universo da obesidade (que vem sendo uma das principais causas de morte no mundo, nos últimos tempos). Sim, e provavelmente renderá o Oscar de atuação para Brendan Fraser (pelo qual será um dos momentos mais marcantes do Oscar 2023).
Imagem: Califórnia Filmes (Divulgação)
Baseado na peça teatral de Samuel D. Hunter (que também cuidou do roteiro desta adaptação cinematográfica), a história é centrada no professor universitário Charlie (Fraser), que após o falecimento de seu namorado, passa a sofrer de obesidade mórbida e não deseja tratamento algum, já que ele está ciente do fato de estar prestes a falecer. Morando sozinho em um apartamento decadente e recebendo visitas constantes de sua enfermeira Liz (Hong Chau), ele tenta uma reaproximação de sua filha distante Ellie (Sadie Sink).
Imagem: Califórnia Filmes (Divulgação)
Realmente, esta é uma obra bastante difícil de ser ingerida, pois desde o primeiro arco Aronofsky já transpõe o quanto é complicado para um obeso ter prazeres simples. Com uma tela em aspecto de 1.33:1, o intuito do próprio é mostrar sutilmente o quão “gigante” é a presença de Charlie, em várias situações. Seja pelo fato dele sempre se comparar com a baleia Moby Dick (que deu origem ao título do filme) e sempre procurar ser bondoso com todos ao seu redor (como ele resolver alimentar um pássaro, mesmo tendo várias dificuldades de locomoção, ele se esforça para alegrar este).
E as referências ao citado, não param por aí. Seja por intermédio da trilha sonora de Rob Simonsen (que usa notas com sintonia de passos de um gigante), o fato de sempre estar chovendo na maioria das cenas (uma vez que os protagonistas da obra citada, enfrentarem o mesmo diante de uma tempestade) e até mesmo um poema recitado pelo próprio que engloba aquele.
Além do lado poético e literário na obra, Aronofsky deixa explicita de forma nua e crua como Charlie usava a comida como uma verdadeira fuga para seus problemas (uma vez que ele sempre come descontroladamente, apenas para saciar o vazio de seu ex-companheiro e sua própria filha). E isso é transposto perfeitamente por Fraser, que não transmite uma enorme sensação claustrofóbica, uma vez que não conseguimos sentir a liberdade daquele cenário mostrado. Realmente ele merece o Oscar, assim como o trabalho da equipe de maquiagem e penteado (que deformaram totalmente o mesmo).
Mas não é apenas Fraser que dá um show de interpretação, uma vez que o roteiro cria oportunidades para todos os personagens presentes como as próprias Chau, Sink, Ty Simpkins (que interpreta o crente Thomas, e possui um arco ótimo sobre a relação da Bíblia com o quadro de Charlie) e Samantha Morton (a ex-esposa de Charlie, Mary).
“A Baleia” realmente é um filme para poucos, mas que nos faz refletir sobre as pequenas coisas da vida e o quão devemos nos cuidar, mesmo por quem nos mais ama.
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