Crítica - O Mecanismo (2ª temporada) - Engenharia do Cinema
Depois de uma polêmica primeira temporada, a série da Netflix, “O Mecanismo”, chega de forma mais apagada, mas ainda cercada das polêmicas envolvendo discursos do diretor e criador desta José Padilha, além de deixar claro que esta temporada provavelmente será a última.
Dividida em oito episódios com cerca de 50 minutos cada, vemos o quão desgastada está a fórmula optada por Padilha em comparação com a temporada anterior. Enquanto esta focava nos protagonistas policiais vividos por Selton Mello e Caroline Abras, aquela agora foca em empresários como Ricardo Bretch (Emílio Orciollo Netto) e no doleiro Roberto Ibrahim (Enrique Diaz). Devido ao excesso de “críticas populares” em cima de nomes conhecidos como Dilma, Lula e Aécio Neves, ele optou por agora centralizar a série envolta a arcos com maiores pitadas ficcionais, dentro de fatos verídicos. Desde os primeiros minutos do episódio piloto da temporada, ele também deixa claro que a série não possui um posicionamento político, mas sim uma ideia sobre todo o contexto retratado.
Não estou aqui para comentar isso, muito menos o que pensam os envolvidos no seriado. Estou apenas retratando a cinematografia da mesma. E devo confessar que desta vez ele errou, e muito, a mão no contexto “realidade”. Enquanto a proposta principal se deu em “basear em fatos reais”, onde havia uma enorme quantidade de humanidade nos atos dos personagens, agora temos um “arco Hollywoodiano” envolvendo o personagem Ibrahim. Por dois episódios a série extrapola em clichês do gênero de investigação, frases de efeito e uma narrativa onde parece que estamos vendo uma “outra série”. Sim, a “Operação Lava Jato” é gigante, e existem várias histórias para se explorarem, pelo qual facilmente esse arco poderia ser substituído.
Para quem acompanha os noticiários e o comportamento de determinados políticos, vemos inúmeros easter eggs que vão desde a paixão de Lula pelo Corinthians, o Aécio cheirando pó no banheiro, até o discurso do Presidente Jair Bolsonaro. Quando eles ocorrem, acabam sendo interpretados de forma sarcástica, aos quais quem curte humor negro, provavelmente será um deleite.
Em seu provável encerramento, vemos que “O Mecanismo” consegue ser uma boa série de investigação política. Mas que, infelizmente, demonstrou ter perdido o gás que ela possuía em sua temporada antecessora. Como espectador apenas digo que a Netflix fez uma ótima escolha em cancelar a série o mais rápido possível.