Crítica - Brinquedo Assassino (2019) - Engenharia do Cinema
Quem cresceu nos anos 90, se recorda muito bem o quão era reprisado pelo SBT o clássico horror “Brinquedo Assassino”. Principalmente aqueles que eram crianças na época e morriam de medo apenas ao olhar para a cara do famoso boneco Chucky (e me incluo neste montante). A história mostrava um serial killer que transferia seu espirito para um boneco e, posteriormente, tentou a todo custo adentrar no corpo do menino Andy.
Já a história deste novo mudou bastante, pois o roteirista Tyler Burton Smith procurou jogar o enredo para os dias atuais, ou seja, não há rituais satânicos e muito menos um “simples brinquedo”. Agora o boneco Buddi (relaxem, pois o nome muda para Chucky em uma sequência hilária) é um “super brinquedo”, onde ele é movido por inteligencia artificial e através comandos via bluetooth comanda diversos aparelhos eletrônicos e afins. Mas a programação de um deles acaba sendo alterada por um funcionário raivoso na fábrica do boneco no Vietnã (sim, essa é a “nova macumba”). E justamente esse entra na vida do solitário garoto Andy (Gabriel Bateman), quando sua mãe Karen (Aubrey Plaza) resolve presenteá-lo com um que havia “sobrado” na loja. Mas, à medida em que a amizade dentre aquele e Chucky vai crescendo, este vai querendo exclusividade com o garoto e esse é o novo álibi para a matança correr solta.
Começo destacando que durante os primeiros minutos, o riso será eminente para aqueles que cresceram com a imagem do clássico Chucky. Além do visual estar completamente diferente, o fator dele ser um boneco com as habilidades citadas, torna o filme mais uma comédia de humor negro do que um próprio terror. Mas calma lá, pois existem duas cenas em específico onde o horror é estampado de forma tensa e com muito sangue (e nós literalmente se contorcermos na cadeira).
O diretor Lars Klevberg sabe trabalhar esses momentos de forma sutil, pois ele troca as clássicas músicas de suspense (mas elas ainda ocorrem, mas sem ser em excesso), por tonalidades na fotografia. Sempre que a palheta de cores ficam escuras e vermelhas, indica que o horror está por vir e isso é genial.
Já o roteiro procura explorar bem a relação dentre Chucky e Andy até chegar o arco principal, deixando as motivações do boneco mais “plausíveis”, além de criarmos mais compaixão com o segundo. Infelizmente Smith tecla em diversas situações habituais do gênero, nas quais “ninguém acredita no protagonista”, “personagens que merecem morrer”, “o vilão não foi derrotado” e por aí vai.
Mas o grande destaque é a dublagem do Mark Hamill para o boneco Chucky. Ele está hilário e ainda canta uma música que dificilmente sairá da cabeça tão cedo (opte pela versão legendada e você notará). Sua química com Bateman está boa, porém, o grande descuido desta produção se dá aos personagens de Plaza e Brian Tyree Henry, pois enquanto a primeira não possui expressão alguma, o segundo parece que está em outro filme.
“Brinquedo Assassino” é uma refilmagem desnecessária (como as outras que vem saído). Mas, mesmo assim, ainda consegue mostrar que o personagem Chucky consegue divertir mais nos cinemas do que nas produções voltadas para vídeo/streaming. Se você não ficar entrando no comparativo com o clássico vai gostar.
Gabriel Fernandes: Engenheiro de Computação, Cineasta, Crítico de Cinema e agora Radialista na Rádio RVD, resolveu compartilhar seu conhecimento sobre cinema com todos aqueles que apreciam essa sétima arte.