Explicando "Era Uma Vez Em... Hollywood" - Com Spoilers - Engenharia do Cinema

publicado em:21/09/19 3:30 PM por: Gabriel Fernandes ArtigosCinemaColunasNotícias

Não iria realizar este texto. Mas depois de assistir “Era Uma Vez Em… Hollywood” três vezes no cinema, e em todas essas idas, meus amigos (que estavam me acompanhando, mas de forma dispersa por ida) vieram me questionar fatos do longa, pelo simples fato de não conseguirem entender grande parte do filme (além de várias outras mensagens de outras pessoas via Whatsapp, com o mesmo assunto). Me senti na obrigação de explicar o contexto por trás de tudo e separar o que é fato e ou que é ficção. Então vamos lá. Mas já aviso de antemão que este texto terão spoilers, então leia por sua conta e risco.

Recapitulando a história gira em torno do ator Rick Dalton (Leonardo DiCaprio) com seu dublê Cliff Booth (Brad Pitt), em uma Hollywood de 1969, época onde o faroeste dominava os cinemas e televisão. Enquanto o primeiro tenta se estabelecer como um ator de sucesso, e manter firme a parceria com Booth, ele sonha em conviver com seus vizinhos, o famoso casal Roman Polanski (Rafal Zawierucha) e Sharon Tate (Margot Robbie).

Começarei destacando que os ÚNICOS personagens fictícios nesta narrativa são os próprios Dalton e Booth, pois eles representam a modificação do próprio Quentin Tarantino, nos fatos que ocorreram no ano citado.

O arco central gira em torno na preparação de terreno para a noite fatídica dos assassinatos da própria Tate, seu ex-noivo/melhor amigo o cabeleireiro das celebridades Jay Sebring (Emile Hirsch), a herdeira da fabrica de cafés “Folger” Abigail Folger (Samantha Robinson) e seu marido Voytek Frykowski (Costa Ronin). Houveram mais outras duas vitimas, porém o longa as excluiu da narrativa. Os assassinatos ocorreram na noite de 09 de agosto de 1969 (motivo do filme ser inteiramente divido em datas, ao invés dos habituais capítulos, sempre usados por Tarantino), na casa da própria Tate, em Cielo Drive, 10050 (cuja placa é sempre destacada nos enquadramentos do longa), em Los Angeles, no bairro de Bel Air, a mando de Charles Manson. Interpretado por Damon Herriman (que anteriormente já o viveu na série “Mindhunter”, da Netflix), ele aparece apenas em uma cena no longa, pelo qual é confrontado por Sebring, na própria casa de Tate, a assustando.

O motivo de ele ter ido até o local, é pelo fato da casa pertencer a um antigo agente musical, que negou a Mason a comercialização de suas musicas. Irado com a decisão, ele decidiu partir para a vingança, criando uma seita com vários hippies. Em grande parte elas eram mulheres na faixa dos 15/20 anos, aos quais se tornavam suas escravas sexuais e viviam de roubos e restos de alimentos do lixo. Este tópico é visto durante boa parte do filme, inclusive após a abertura.

Imagem: Andrew Cooper (Divulgação: Sony Pictures)

Para abrigar o bando, Mason fez um acordo com George Spahn (Bruce Dern), onde ele cederia seu rancho em troca de favores sexuais com suas garotas. Cego e senil, Spahn aceitou. O local servia como cenário para gravações de faroestes, aos quais o personagem de Brad Pitt acaba aproveitando a carona que da para Pussycat (Margaret Qualley, cujo nome referência o carro da Noiva, em “Kill Bill’) e vai até o local. Então somos apresentados a todos os membros da família Manson, de forma sutil. Inclusive os assassinos da casa de Tate, ‘Tex’ Watson (Austin Butler), Susan Atkins, Patricia Krenwinkel e Leslie Van Houten (estas três ultimas tiveram os nomes substituídos no longa, pelos apelidos que Manson lhes dava). Mas só ressaltando que a cena de luta envolvendo o personagem deste com um dos hippies, nunca aconteceu.

Mas agora partindo para o arco da própria Sharon Tate, no longa ela possui uma homenagem digna de Tarantino, pois ela é vista como um “anjo” (sendo retratada com poucas falas, ela sempre estava sorrindo e feliz). A sequência dela indo conferir seu último filme “A Arma Secreta Contra Matt Helm” (“The Wrecking Crew”), primeiro reflete muito bem a dificuldade que alguns atores tinham para serem reconhecidos nas ruas (o que é diferente de hoje, onde reconhecemos até atores que só usam maquiagens nos filmes como Andy Serkis e Doug Jones). Segundo que quando ela entra na sala de exibição, é realizado um enquadramento sob a atriz Margot Robbie, onde ela dança igual a personagem de Tate neste filme citado, e em seguida começamos a ver esta assistindo a versão original deste (a única coisa reconstituída foi a breve cena de Tate treinando artes marciais com Bruce Lee (que é mostrada como flashback). Algo que realmente aconteceu para este respectivo longa).

Imagem: Andrew Cooper (Divulgação: Sony Pictures)

Mas você achou que ia esquecer de mencionar o principal: e o personagem do Leonardo DiCaprio? O que ele fez, realmente ocorreu? Pois bem, como disse no segundo paragrafo ele é totalmente fictício. Porém as pessoas que ficaram ao seu redor na narrativa não. A começar pelo empresário Marvin Schwarz, vivido por Al Pacino. Realmente na época ele era muito famoso em Hollywood, por escalar atores em produções de faroeste.

Já o seriado pelo qual mostrada suas filmagens durante boa parte de seu arco, realmente existiu naquela época. Estrelada por James Stacy (interpretado por Timothy Olyphant), o seriado de faroeste “Lancer” era meio que um “concorrente” ao então sucessivo clássico “Bonanza”. Já o diretor do respetivo episódio, era o ator Sam Wanamaker (vivido por Nicholas Hammond, de “A Noviça Rebelde”).

Agora partindo para o englobamento geral do filme, Tarantino realiza o longa como se fossem três histórias histórias distintas de um seriado dos anos 60/70, pelos quais desde a fotografia de Robert Richardson (constante colaborador do diretor) que enaltece ainda mais a pastilha de cores de produções da época, até o maravilhoso e trabalhoso design de produção de Arianne Phillips (que provavelmente levará o Oscar por este trabalho), onde não só teve cuidado em optar em retratar os locais da época, como também os utensílios da época.

Depois deste breve “resumo” só digo uma coisa: agora espero que você tenha entendido “Era Uma Vez Em… Hollywood”

Gabriel_Fernandes

Gabriel Fernandes: Engenheiro de Computação, Cineasta, Critico de Cinema e agora Radialista na Rádio RVD, resolveu compartilhar seu conhecimento sobre cinema com todos aqueles que apreciam essa sétima arte.



A última modificação foi feita em:janeiro 6th, 2020 as 22:02


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