Entrevista com o dublador Márcio Seixas, voz do Batman, Spock, James Bond... - Engenharia do Cinema
Ele já fez várias vozes icônicas no cinema e na televisão. Batman/Bruce Wayne, James Bond, Spock, Sr. Incrível e grande parte dos longas do Leslie Nielsen, é impossível você nunca ter escutado sua voz. Trabalhando durante anos para a “Herbert Richers”, Márcio também narrou diversas animações da Disney, como “A Bela e a Fera”.
Neste domingo, 06, ele irá participar do “Santos Comic Expo“, pelo qual apresentará um painel junto a André Azenha e Claudio Roberto Basílio, sobre os 80 anos do Batman. Ele terá inicio às 15hrs, e ocorrerá na Brás Cubas, no Centro de Cultura Patrícia Galvão, Av. Pinheiro Machado nº 48, Vila Mathias – Santos/SP. A entrada é franca.
Simpático, ele cedeu uma entrevista para o “Engenharia do Cinema”:
Engenharia: Você já fez diversas vozes e os mais ecléticos personagens. James Bond, Spock e Batman, são um mero exemplo. Como você diferencia a execução destes trabalhos, assim como dos atores Leslie Nielsen e Clint Eastwood?
Márcio: Entrar em um estúdio e me deparar com esses personagens James Bond, o Sr. Spock, Batman… eu vou acrescentar um quarto personagem, para poder demonstrar a minha tentativa. O meu intuito é que as pessoas entendam que o meu trabalho é puramente intuitivo e de observação. Por exemplo, o James Bond é uma voz fria, um agente frio, quase sem emoção e eu tenho exatamente que reproduzir o tom que ele fala. O Spock é a mesma coisa, um personagem frio, sem emoção. Só que muito linear. Não havia nenhuma outra palavra inflexionada de uma maneira mais forte. Ele era sempre linear e tive de fazer exatamente como ele. O Batman foi chegar um pouquinho mais próximo do microfone, para a voz chegar “um pouco mais perto do original” [frase dita com o tom do personagem]. É uma questão de pratica. Eu citei o quarto personagem, que foi numa série que eu dublei chamada “Magnum”, com Tom Selleck. Eu fazia o piloto do helicóptero, que era um sujeito escrachado, que vivia gritando, brigando com o Magnum por causa de “VOCÊ USA O MEU HELICÓPTERO E NÃO ME PAGA! VOCÊ NÃO PAGOU DA OUTRA VEZ”, e eles eram uma equipe. Aquilo era muito divertido, dublar aquele personagem era muito divertido. Mas de qualquer maneira, eu espero as pessoas tenham compreendido meu raciocínio de que quando elas veem o personagem na tela, com imagem e áudio, tudo o que eu tento é reproduzir o mais próximo o possível.
Engenharia: Você trabalhou durante anos na grande companhia de dublagens “Herbert Richers”. Como se deu sua inclusão nesta companhia?
Márcio: Eu já ouvia em Belo Horizonte esse nome “Versão brasileira Herbert Richers” e eu achava aquilo uma coisa fora do mundo, eu ficava muito excitado ouvindo aquilo. Eu via filmes americanos e saindo uma voz brasileira da minha tv Semp, de quatro perninhas no chão, no tempo da tv preto e branco. Era uma coisa tão espetacular aquilo. Antes do inicio falava o nome dos atores, o nome do filme e com o tempo, eu descobri que sempre aparecia em cima do nome do diretor o “versão brasileira”. Onde aparece na tela “Directed By”, era ali que o Mariano Dublasievicz fazia a sua apresentação “versão brasileira Herbert Richers”.
Ele dava uma acentuação forte no bert, e o Herbert sempre se chamava o nome dele como eu passei a pronunciar depois que o Mariano parou de apresentar. Ele teve um problema nas cordas vocais e não pode mais trabalhar com a voz. Então eu passei a fazer no lugar dele. Ai houve uma observação quando o Herbert me pediu para fazer as apresentações, então eu passei a fazer o “versão brasileira Herbert Richers”.
A minha entrada na empresa se deu por acaso, em um domingo, onde eu estava desempregado no Rio de Janeiro, e minha ex-mulher viu um anuncio no jornal do Herbert Richers, oferecendo estágio para quem conseguisse ler bem em voz alta e tivesse uma boa voz. Na segunda-feira eu me apresentei, junto com outras 300 e tantas pessoas. Dessas sobraram 30 e poucas. Fizeram uma nova seleção e sobraram 16, e eu estava entre eles. Dos 16, 14 desistiram da profissão. E eu fiquei! Graças a Deus! Me encontrei na profissão que eu amo de paixão. E sempre tive um carinho e amor pelo Herbert, ele era um segundo Pai. E como um segundo Pai, tivemos algumas brigas feias e sempre acabávamos caindo nos braços um do outro.
Não por acaso, no “Santos Comic Expo” eu vou ter muito prazer em lhes mostrar um vídeo onde presto uma homenagem ao Herbert Richards, com um pouco mais de três minutos. Eu acho que vocês vão gostar da homenagem que presto a ele. Eu sou eternamente grato a este homem, Herbert Richards
Engenharia: E como te escalaram para ser o narrador oficial das produções da Disney?
Márcio: Quando eu estava no Rio de Janeiro, me desenvolvendo na atividade, eu comecei em 74. Em 1975 conheci o diretor de todas as produções da Disney, era o Telmo de Avelar. E o Telmo me ouvindo em um estúdio onde ele trabalhava como dublador e não como diretor, e ele com aquele jeito dele muito calmo disse “você tem uma voz boa hein. Estou precisando de um narrador. Me procura!”. E aquilo me levou a estratosfera. Cheguei em casa, dava cambalhotas e dizia “não é possível que alguém se interessou pela minha voz”. Quando eu procurei o Telmo ele já nem se lembrava “ahh é, tudo bem vou fazer um teste aqui com você”. Fiz o teste e quando acabou, ele com aquele jeito sempre que parecia um pouco aluar “sua voz é boa, você inflexiona bem. Ta bom, ok. Quando tiver alguma oportunidade eu te chamo.” E realmente chamou. Poucas semanas depois comecei a gravar. Quem estava gravando pra ele na época, se não me engano era Heron Domingues. E ai eu passei a fazer todos os trailers e narrações de animações da Disney e isso durou 19 anos. Os últimos trabalhos que fiz foram o Sr. Incrível em “Os Incríveis”, e logo depois fiz o Pai do Bambi, em “Bambi 2”
Engenharia: Para encerrar, você se tornou o dublador oficial do Batman/Bruce Wayne nas animações. Mas recentemente foi chamado para dublar o Alfred na trilogia comandada por Christopher Nolan. Mesmo sendo dublador do Michael Caine em outros projetos, como você interpretou este desafio?
Márcio: Quando eu fui convidado para fazer o Alfred, do ator Michael Caine, na “Delarte” [empresa de dublagem], eu fiquei ao mesmo tempo muito feliz e intrigado. Eu pensei “olha que legal! Eu faço Batman no desenho e agora vou fazer o Alfred no filme do Nolan!”. Adorei, adorei fazê-lo! Por questões de tempo e oportunidade, nunca consegui ver o filme inteiro. Por tanto, eu não sei como é o filme inteiro, nem a minha participação. Quando eu vejo, é sempre naquele minuto, quando ele estava, por exemplo, com o Bruce Wayne dentro de um avião dizendo “olha me entrega o carro, com gasolina”. Então eu não sei qual foi a minha participação. O que posso dizer é FOI BOM DEMAIS fazer o Alfred! O Michael Caine estava em uma forma excelente, com uma cara muito boa. Ele é um ator inglês da maior qualidade. Dublar ele para mim foi sempre muito motivo de orgulho. Eu sempre apanhei muito dele, pois é um ator muito difícil de dublar, mas eu adorava o dublar.
Gabriel Fernandes: Engenheiro de Computação, Cineasta, Critico de Cinema e agora Radialista na Rádio RVD, resolveu compartilhar seu conhecimento sobre cinema com todos aqueles que apreciam essa sétima arte.
Muito boa entrevista, perguntas interessantes que permitiu o Márcio mostrar muita coisa interessante sobre ele, parabéns.