Vamos Recordar? Stanley Kubrick: Lolita - Engenharia do Cinema
A pedidos dos leitores e seguidores do Engenharia do Cinema, resolvemos fazer essa edição especial do quadro “Vamos Recordar?”, com os longas mais marcantes da carreira de Stanley Kubrick.
Após fazer sucesso com “Spartacus”, o próximo filme de Kubrick seria a adaptação do livro de Vladimir Nabokov (que também adaptou o roteiro cinematográfico, lhe rendendo uma indicação ao Oscar, de 1963), “Lolita”. O enredo é literalmente um soco no estomago, e a atuação incrível da então estreante Sue Lyon (que foi indicada ao Globo de Ouro, na extinta categoria de atriz estreante), conseguem fazer a trama se transformar em algo que pode ocorrer realmente em qualquer época.
Aqui temos a história do professor Humbert (James Mason), que decide se hospedar na casa de Charlotte Haze (Shelley Winters), cuja filha Lolita (Lyon), desperta os desejos mais ardentes do primeiro. Já aviso de antemão que se não fosse adaptada por um diretor como Kubrick, essa história teria as mais desnecessárias cenas pornográficas da história. Felizmente, ele retrata a trama como um verdadeiro jogo de manipulação com consequências fatais.
Sempre na maioria das cenas dentre Humbert e Lolita, vemos através dos gestos que a primeira consegue o que quer, com simples manipulações com aquele. Seja através de um toque no ombro, um olhar, ou até mesmo um discurso liberal, ele sempre acabava comprando as atitudes dela. Como os desejos íntimos dele iam subindo, cada vez mais ela aproveita da situação para conseguir mais coisas e poder. Referencias com situações vividas por muitos no cotidiano real, são claramente percebíveis (outro ponto positivo).
Mas são nessas horas que vemos o quão o Oscar já era injusto até na era do ouro de Hollywood (afinal era pra Sue Lyon estar dentre as finalistas, cujo principal acabou sendo para Anne Bancrof em “O Milagre de Anne Sullivan”). Conflitos a parte, já aviso de antemão que a duração de 152 minutos se dá ao simples motivo citado no paragrafo antecessor, onde Kubrick deixa ser tudo feito de forma natural e cada vez mais impactante (principalmente no arco após a metade do filme).
“Lolita” é um filme ácido, complexo e que teve as mãos certas para ser concebido. Se você gosta de longas como “Garota Exemplar”, essa é a pedida certa.
Gabriel Fernandes: Engenheiro de Computação, Cineasta, Crítico de Cinema e agora Radialista na Rádio RVD, resolveu compartilhar seu conhecimento sobre cinema com todos aqueles que apreciam essa sétima arte.