Especial Martin Scorsese: Silêncio - Engenharia do Cinema
Demorou quase 30 anos para ganhar o seu primeiro Oscar (com “Os Infiltrados”, em 2006) e quase a carreira toda para lançar o seu projeto mais pessoal, que é a adaptação do livro “Silêncio” de Shûsaku Endô. Aqui, ele também é responsável pela adaptação do roteiro com Jay Cocks, o que nos faz ver como ele já está envolvido no projeto. Só que o principal problema de “Silêncio”, é que ele em momento algum remete a outra produção do cineasta, ou seja, é um projeto literalmente mais pessoal e “original” ao mesmo tempo.
A trama apresenta os padres Jesuítas, Rodrigues (Andrew Garfield) e Garupe (Adam Driver), que são mandados para uma missão religiosa no Japão, em pleno século 16, onde, na época, o local não permitia cristãos e os governantes realizavam uma série de torturas com aqueles que não fossem budistas. No local, eles tentam buscar seu antigo mentor, Ferreira (Liam Neeson), que desapareceu depois de uma missão durante anos.
Pode-se dizer que Scorsese fez, de fato, um dos filmes que mais mexem com a questão religiosa/politica no cinema. Aqui seu retrato serve mais como uma verdadeira reflexão, ao invés de mais uma versão hollywoodiana sobre fatos religiosos. Desde as sequências sobre questionamentos religiosos, até as de tortura, acabamos de alguma forma sentindo o que está se passando em cena com os personagens. A fotografia de Rodrigo Prieto (indicada ao último Oscar, inclusive), deixa a película em um clima sombrio, clássico e termo em diversos momentos, que só auxiliam ainda mais a abordagem. Já a trilha sonora, é quase ausente durante as três horas de projeção, deixando mais para o vácuo permeando.
Quanto as atuações, Garfield realmente esta bem no papel de Rodrigues (não duvido que futuramente ele acabe levando o Oscar), Driver está meio apagado aqui e Liam Neeson aparece bem pouco, mas seu destaque fica mesmo no penúltimo arco. Felizmente o peso de “Silêncio” ficou por conta o elenco japonês onde Yôsuke Kubozuka faz o personagem mais interessante, dentre os cristãos japoneses e Issei Ogata faz o típico vilão sarcástico, onde, de certa forma, gostamos de ver o cara em tela, mesmo ele sendo um sacana.
“Silêncio” não é o melhor longa de Martin Scorsese, mas sim o que ele sempre desejou realizar. Porém os que não gostam tanto do diretor, nem da temática, creio que o filme possa até incomodar e muito.
Gabriel Fernandes: Engenheiro de Computação, Cineasta, Crítico de Cinema e agora Radialista na Rádio RVD, resolveu compartilhar seu conhecimento sobre cinema com todos aqueles que apreciam essa sétima arte.