Crítica - Grace de Mônaco - Engenharia do Cinema
A história da atriz Grace Kelly é vista com carinhos por uns, e com polêmica pelos outros. Conhecida por ter sido a musa de Alfred Hitchcock em diversos filmes do cineasta, durante os anos 50, largou a vida de Hollywood para viver como Princesa da Monarquia Francesa, em Mônaco, já que havia se casado com o então Príncipe Rainier. “Grace de Mônaco” é um filme que justamente explora de forma breve essa transição, porém é o típico “resumo do resumo”, ou seja, o cheiro de interferência dos produtores é notável.
Pra começo de conversa, o tema do filme não é apenas a vida de Kelly, mas sim sobre o primeiro grande conflito que teve em seu posto, quando ela recebeu a proposta de Alfred Hitchcock para estrelar seu novo filme para a Universal Pictures, com um cachê de US$ 1 milhão (algo nunca pago para um artista, na época). Eis que ela se pega em uma grande dúvida, de continuar vivendo na monarquia ou continuar trabalhando nos holofotes de Hollywood.
O grande demérito deste filme é o azar de ter tido mais de 21 produtores (ISSO MESMO) envolvidos em sua realização. Você percebe que deve ter acontecido alguns conflitos durante a edição, pois algumas coisas simplesmente somem do enredo e sequer acabam sendo mencionadas (como a investigação de quem era a informante midiática no palácio, embora um breve enquadramento nos pressupos o culpado). Já outras somem e aparecem (como o caso de Hitchcock, que é esquecido e depois relembrado). Até hoje este filme tem três versões, sendo elas do próprio diretor Olivier Dahan (exibida apenas na abertura do Festival de Cannes de 2014), do produtor e roteirista Arash Amel e da sua própria produtora “The Weinstein Company” (essa que foi comercializada pelo mundo).
Isso porque honestamente as atuações estão realmente muito boas, tanto que é notável o fato de Nicole Kidman se dedicar em sua interpretação. Já Tim Roth (que interpreta seu marido o Príncipe Rainier) teve seu arco prejudicado por estas edições, pois o que se entende vagamente é “ele está sofrendo um golpe e poderá perder seu cargo, dentro da Monarquia”. Uma situação bem lamentável, ainda mais quando você denota que o diretor tentou fazer uma narrativa que remetia aos clássicos dos anos 60, assim como a própria fotografia amarelada de Eric Gautier.
“Grace de Mônaco” era pra ser uma boa cinebiografia sobre a trajetória de uma das mais controversas personalidades da história do cinema. Mas devido aos conflitos nos bastidores, não conseguiu isso.
Gabriel Fernandes: Engenheiro de Computação, Cineasta, Crítico de Cinema e agora Radialista na Rádio RVD, resolveu compartilhar seu conhecimento sobre cinema com todos aqueles que apreciam essa sétima arte.