Crítica - A Tabacaria - Engenharia do Cinema
Não existem produções mais interessantes e que nunca saem de moda, quando o assunto se trata sobre Freud. Com foco de mostrar o famoso psicanalista como um coadjuvante na época da ascensão do nazismo, “A Tabacaria” procura apresentá-lo como um verdadeiro “espectador” da trama, já que a história é baseada no livro de Robert Seethaler e focada no personagem Franz (Simon Morzé).
Após o fatídico falecimento de seu pai, Franz resolve ir trabalhar na cidade grande, em uma pequena tabacaria comandada por Otto (Johannes Krisch). Como um dos seus clientes mais assíduos, ele tem o famoso psicanalista Sigmund Freud (Bruno Ganz), que lhe ajuda a conquistar o coração de Anezka (Emma Drogunova).
Uma jogada bastante interessante na narrativa de Nikolaus Leytner (que também assina o roteiro com Klaus Richter) é que ele sempre procura mesclar a realidade com as fantasias na cabeça de Franz. Não sabemos exatamente se ele está sonhando ou vivenciando até o desfecho de terminadas situações. O recurso funciona muito bem até a metade, mas posteriormente, acaba se tornando constante e se perde a graça.
Outra excelente utilização é a questão comportamental dos personagens em cena, aos quais às sensações de todos os personagens são demonstradas apenas por gestos e não por diálogos (vide a cena onde Franz demonstra interesse em uma cliente, no início do filme). Porém, faltou mais um pouco sobre como era realmente Sigmund Freud na interpretação de Ganz e no próprio roteiro, onde quem não conhecia a história dele anteriormente não consegue ter uma base de como ele era tão genial (e não vai entender o porque da abordagem dele pelos personagens).
“A Tabacaria” poderia ser um filme mais ácido, porém, dentro do contexto que era pregar uma “história de amor com Freud como conselheiro”, funciona como um ótimo divertimento escapista.
Gabriel Fernandes: Engenheiro de Computação, Cineasta, Crítico de Cinema e agora Radialista na Rádio RVD, resolveu compartilhar seu conhecimento sobre cinema com todos aqueles que apreciam essa sétima arte.