Crítica - Judas e o Messias Negro - Engenharia do Cinema
Considerado como um dos principais filmes do Oscar 2021, “Judas e o Messias Negro” é claramente uma produção que chegou na hora certa e que provavelmente dará diversos prêmios ao ator Daniel Kaluuya (inclusive o Oscar de ator coadjuvante). Tendo como foco a os conflitos dentre os Panteras Negras (movimento negro dos EUA, que era muito grande nos anos 70) e a polícia, o grupo chegou a causar uma grande dor de cabeça no FBI e no Presidente do próprio, J. Edgar Hoover (Martin Sheen).
Imagem: Warner Bros Pictures (Divulgação)
Na história o agente do FBI Roy Mitchell (Jesse Plemons) acaba propondo ao criminoso Bill O’Neal (LaKeith Stanfield) uma saída para ele não ter de ir para prisão: se infiltrar no grupo dos Panteras Negras, e obter informações das ações lideradas por Fred Hampton (Kaluuya).
Imagem: Warner Bros Pictures (Divulgação)
É inevitável você sentir que o cineasta Shaka King teve uma forte base em “Os Bons Companheiros” e “Infiltrado na Klan“. Seja na questão de “até onde vai uma amizade para salvar a própria pele” e “o enorme racismo presente nos EUA”. Mas como estamos falando de um novo nome no cinema, King em momento algum cai na tentação de ser um Scorsese ou Spike Lee e desenvolve sua própria imagem.
Nela ele não tenta endeusar ambos os lados, pois sua narrativa apresenta o quão ambos chegam a atitudes desumanas por conta de seus ideais. Um mero exemplo é em um arco onde em uma cena vemos Hampton apelando pela morte de policiais e na outra cena ele está com sua namorada (Dominique Fishback), como se nada estivesse acontecendo. Ao mesmo tempo, vemos Hoover tendo um comportamento racista em uma conversa e transpondo como se fosse algo certo.
Apenas neste quesito vemos o quão o elenco embarcou de cabeça na história, pois seus olhares sempre transpõem sentimentos reais e alguns chegam a causar bastante indignação e mal estar no espectador. Porém o elenco coadjuvante chega a ser tão bom, que eles roubam a atenção totalmente do protagonista vivido por Stanfield (que está bem, mas para este tipo de filme, o roteiro lhe deixou apagado demais).
“Judas e o Messias Negro” sem dúvidas é um dos principais filmes na época de premiações, e provavelmente vai levar alguns Oscars pra casa.
Gabriel Fernandes: Engenheiro de Computação, Cineasta, Crítico de Cinema e agora Radialista na Rádio RVD, resolveu compartilhar seu conhecimento sobre cinema com todos aqueles que apreciam essa sétima arte.