Crítica - Cidade de Deus - Engenharia do Cinema
É unânime o fato que “Cidade de Deus” é uma das nossas maiores obras primas. Com quatro indicações ao Oscar nas categorias de direção, roteiro adaptado, edição e fotografia (e sendo um dos poucos longas estrangeiros a não receberem indicações ao Oscar na categoria de filme internacional, mas em outras gerais), o filme de Fernando Meirelles é alvo de várias discussões mesmo após quase 20 anos de seu lançamento. Seja através de outros filmes (como os dois “Tropa de Elite“), documentários, mesas redondas sobre premiações e até mesmo no quesito de “como fazer um bom cinema” (sempre sendo enaltecido por cineastas grandes como Martin Scorsese, nas oportunidades que surgem para abranger sobre).
Imagem: Miramax (Divulgação)
Baseado no livro de Paulo Lins, a trama tem como plano de fundo a periférica Cidade de Deus desde o início de sua concepção nos anos 60, vemos várias histórias que acabam se interligando em um único plano de fundo. Sob a perspectiva e olhar de Buscapé (Alexandre Rodrigues), vemos como a criminalidade tomou conta do local e que desde seu princípio o grande vilão da região foi o temido Zé Pequeno (Leandro Firmino).
Imagem: Miramax (Divulgação)
Um dos grandes pontos positivos nesta narrativa é o roteiro de Bráulio Mantovani, que consegue estabelecer a cidade como um personagem coadjuvante na trama. Nela somos apresentados a diversas personalidades que quaisquer regiões periféricas do Brasil e do mundo, possuem (o que facilmente faz um espectador cair nas graças dos personagens). Com uma narração em off do próprio Buscapé, somos apresentados aos coadjuvantes da região por sua perspectiva. Alguns conseguiram obter um enorme carinho desde o primeiro momento como o Mané Galinha (Seu Jorge), enquanto outros sentimos raiva e medo como acontece com Zé Pequeno (que até hoje é visto como um dos maiores vilões da história do cinema).
Como estamos falando de uma obra que se passa envolta de vários conflitos e situações delicadas dentro da guerra de controle da periferia, por conta das drogas, obviamente há muita cena de violência e impactantes (tanto que os mais sensíveis sequer conseguem ver calmamente a cena de abertura, envolvendo o abate de galinhas para um churrasco).
“Cidade de Deus” é até hoje um filme que por mais que alguns não gostem, é uma obra que deve ser tratada com respeito por todos aqueles que apreciam o cinema nacional e internacional.
Gabriel Fernandes: Engenheiro de Computação, Cineasta e Critico de Cinema, resolveu compartilhar seu conhecimento sobre cinema com todos aqueles que apreciam essa sétima arte.