Espaço do Colecionador #2 - José Augusto dos Santos - Engenharia do Cinema

publicado em:13/02/22 10:00 AM por: Gabriel Fernandes ColunasEspaço do Colecionador

Como nós do Engenharia do Cinema nunca escondemos que apoiamos a mídia física, resolvemos criar este quadro que sempre irá trazer um colecionador da mesma, a cada 15 dias, sempre aos domingos. Com o propósito de mostrar que a mesma ainda vive e que existem várias pessoas que possuem vários filmes em suas residências, o quadro surgiu com o intuito de discutir e apresentar pensamentos sobre o andamento do mercado.

O papo de hoje é com o colecionador José Augusto dos Santos, de 32 anos. Trabalhando como consultor técnico, ele coleciona filmes há quase 30 anos e não pensa em desistir da paixão tão cedo. Com uma coleção repleta de edições especiais, Blu-Rays, DVDs, Giftsets e importados, tivemos uma divertida conversa com o mesmo sobre suas aquisições, desejos e títulos que há em suas prateleiras.

Engenharia: Como você começou sua Coleção? Qual seu primeiro título em mídia física

Zé: Minha coleção começou na época do VHS, em 1995. Naquela época era muito diferente de hoje, pois a televisão por assinatura era um sonho para muitos, não havia internet e a TV aberta tinha poucos canais, mas havia uma programação de maior qualidade, voltada a séries e filmes. Nos finais de semana, o VHS e as locadoras reinavam, não tínhamos muitos VHS, geralmente meu pai comprava um fita virgem e gravava o filme que era exibido na TV. Inclusive ele tinha algumas fitas, daquelas coleções das “Caras” e “Folha de São Paulo”. O primeiro VHS que ganhei foi da minha mãe, e era justamente do desenho “Cavaleiros do Zodíaco“. Implorei demais para ela esta edição, e na época que eramos crianças, não sabíamos os preço das coisas, mas lembro que foi bem caro. Tanto que ele era até da Estrela [fabricante de brinquedos], tive tanto carinho por essa fita que tenho até hoje.

Imagem: Autor (Divulgação)

Foi daí que veio o costume de colecionar. Comecei a guardar o dinheiro de mesada que ganhava, para comprar uma fita da Disney ou das banca de revista. Conforme fui crescendo, comecei a frequentar sozinho locadora e Sebo, conhecendo filmes que não se via muito na TV, como diretores como Akira Kurosawa, Stanley Kubrick, Fritz Lang e Sergei Eisestein. Frequentei muitas vídeo locadoras, comprando vários VHS usados, e no Sebo fiz amizade com o dono e locava filme para a semana toda. Nessa época já tinha umas 100 fitas no acervo, porém ainda não tinha estante e ficava tudo dentro de uma cômoda antiga. Porém final de 2001 para 2002, meus pais compraram o primeiro aparelho de DVD, e para mim como redescobrir a roda. Com imagem e o som incríveis, meu primeiro DVD (que comprei junto com meu Pai) foi o do filme “Matrix”, inclusive tenho até um outro exemplar lacrado dele (que comprei depois) e guardo com muito carinho. Infelizmente o DVD original se estragou com o tempo.

Imagem: Autor (Divulgação)

Com meus pais vendo a coleção crescendo, me deram uma estante de aço e pude guardar as fitas e DVD, e foi uma alegria só em poder ter elas em um local que parecia uma locadora. todos os parentes que visitava nós eu mostrava a coleção e chegavam até tirar foto. Quando fiz 16 anos comecei a trabalhar meio período em um canal de TV aqui, era auxiliar de câmera, aí que a coleção inflou, também de tanto visitar a locadora, fui convidado a trabalhar, trabalhei por um ano lá, até fechar e depois trabalhei em uma das maiores redes da época que era a 100% Vídeo. Comecei a fazer parte dos grupos de colecionismo ainda no Orkut, lá por volta de 2004, no começo tinha só comunidade gringa, até criarem uma que muitos dos nomes conhecidos dos grupos via por lá. Em 2010 após já um período no mercado, comecei a trocar minha coleção para o Blu-ray, me desfiz de algumas edições, assim como VHS, guardei bastante coisa ainda, os que tenho mais carinho ou tem uma história legal por trás.

Engenharia: Quais os maiores problemas que você acha que a comunidade de mídia física enfrenta?

Imagem: Autor (Divulgação)

Zé: Acho que o maior problema atual é a desunião, assim como toda rede social, sempre há toxicidade, gente que não liga muito para o mercado e gosta de discórdia. Como também há os formadores de opiniões, que se contraem com um pensamento diferente do deles. Conheço colecionadores que se afastarem de todos, devido essas brigas de grupo x com o y, desinformações, porém muita gente vejo que leva a sério, sendo que é apenas um Hobby e deveria ser algo de descontração. Mas muita gente acaba se chateando ou se ofendendo por coisas ditas. Virou uma coisa chata, que atrapalha demais nossa comunidade, batalhas de egos, visualizações, inveja e por aí vai.

Imagem: Autor (Divulgação)

Outro grave problema no cenário atual é que o mercado diminuiu muito, teve grandes lojas que fecharam como a 2001 vídeo, DVD World, Ewmix, mas muitas pessoas possuem outras prioridades e migaram para streaming ou até pirataria, devido os preços (afinal, tudo subiu o preço, o dólar nas alturas e o real perdendo valor). Acredito que ninguém use o hobby como uma prioridade em sua vida (tirando as empresas que dependem disso), e percebo isso há anos. Também tiveram o fechamento de setores que vendiam esse tipo de produto como as lojas Americanas, Saraiva e demais livrarias. Por mais que tenha tido o caso de livraria dando calote em editora e empresa de home vídeo, o povo fora da internet consumia mídia física por lá.
Uma vez encontrei em um sebo um senhor que puxou papo comigo, e ele havia comentado que nunca mais tinha visto filmes novos à venda. Então expliquei das lojas on-line e ele tinha muito receio de comprar lá, ai peguei o celular e mostrei os pedidos que fiz de algumas lojas e ele ficou fascinado com o tanto de coisa que comprei. Quantas pessoas assim não devem ter pelo nosso país? Não é todo colecionador que tem um Facebook por exemplo. Veja o caso da Vera Fischer, será que ela compra na Versátil, na Obras Primas ou na FamDVD por exemplo?

Imagem: Autor (Divulgação)

Outro ponto é atrasos nas produções, a Rimo (agora Inova) vive atrasando seus produtos e parece que estão remando contra a maré, priorizando disco de Xbox (que ocupa boa parte das produções), fora as empresas que possuem títulos com meses de atraso, e que bloqueiam a gente nas redes sociais, até mesmo o mal atendimento. Inclusive, tem muita gente que perdeu a fé na pré venda, por conta disso e as empresas precisavam pensar em algo para resgatar isso, já que quanto mais títulos adquiridos, mais filmes elas conseguem lançar.

Um último ponto, nosso mercado virou nicho, dentro de um nicho. Estamos vivendo quase as mesmas coisas que os colecionadores de Laserdisc nos anos 80, onde pagamos para manter nosso amor pela mídia física, e como estamos comprando, continuam lançando filmes, contudo até quando? Cada vez mais vejo nos grupos de venda pessoas vendendo suas coleções ou parte de seus filmes, isso é mais uma pessoa que dificilmente irá comprar como de costume, isso faz cada vez ficar limitado até chegar um ponto que não será vantajoso nem para as empresas lançar filmes. Mas diferente dos colecionadores de Laserdisc, ainda podemos tentar mudar isso, não falo para comprar tudo o que sair, já que é poucos que conseguem isso, mas tente apoiar comprando algo que goste, faz a diferença.

Imagem: Autor (Divulgação)

Engenharia: Qual seus maiores títulos da coleção?
Zé:
Irei citar alguns títulos que mais gosto. Vou classifica-los por ordem alfabética, pois não gosto de colocar que “uma é a mais preferida que a outra”, já que um é sempre diferente do outro, ou até mesmo por poder parecer alguma mais simples por não ser um Giftset e etc. Mas cada um possui uma história para mim ter adquirido, e são edições que gosto muito.

Imagem: Autor (Divulgação)

Breaking Bad- Steelbook
Coleção Alfred Hitchcock
Coleção Steven Spielberg
Coleção Superman – Importado
Casablanca – Giftset – Importado
Miami Vice – The Complete Series – Importado
O QUINTO ELEMENTO 4K – Obras Primas
Star Trek – Phaser
Twin Peaks – O Mistério
Western Collection – Importado

Engenharia: Com relação aos importados. Quais quesitos você acredita que compensa, na hora de trazer um título para sua coleção?

Zé: Atualmente é bem difícil trazer algo devido o custo do dólar, mas priorizo mais o mercado nacional, já que um filme simples não compensa mais trazer de fora. Felizmente peguei aquela época da Amazon , onde se comprava Giftset por R$ 80,00. Atualmente compro alguns Blu-Rays em 4K da CD Point, pois muitos filmes eles fazem um preço legal e não tem dor de cabeça, além de entregarem rápido. O quesito principal sempre para mim é o filme, tanto que não trago um Steelbook de um longa que não gosto, só por causa do preço. Também sempre tenho mais de uma edição do mesmo filme, e tento pegar a nacional se é algo que já importei, por exemplo. Se um dia o mercado aqui parar de lançar, a alternativa que tenho é de importar as edições. Então vou sempre trazer aquilo que realmente gosto e vejo necessidade de ter na coleção.

Imagem: Autor (Divulgação)

Engenharia: Além de mídia física, você coleciona outras coisas?
Zé:
Eu sempre gostei de ter coisas, tanto já colecionei muitos gibis, mas os vendi em uma época (me arrependo, pois possuía muitas edições que eram difíceis de achar bom estado). Também colecionei cartas de “Magic e atualmente além de filmes, coleciono instrumentos musicais (Tenho 4 guitarras, 4 violões e 1 piano), e esse ano tenho meta de comprar mais 2 guitarras [risos]. Possuo também vários videogames e tenho todos os Playstations, um Atari 2600 (que está sendo restaurado), um Mega Drive (esse eu tenho mais de 50 fitas japonesas, com os estojos e encartes em perfeitas condições).

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Gabriel Fernandes: Engenheiro de Computação, Cineasta, Crítico de Cinema, resolveu compartilhar seu conhecimento sobre cinema com todos aqueles que apreciam essa sétima arte.



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