Espaço do Colecionador #5 - Deimison Neves - Engenharia do Cinema
Como nós do Engenharia do Cinema nunca escondemos que apoiamos a mídia física, resolvemos criar este quadro que sempre irá trazer um colecionador da mesma, a cada 15 dias, sempre aos domingos. Com o propósito de mostrar que a mesma ainda vive e que existem várias pessoas que possuem vários filmes em suas residências, o quadro surgiu com o intuito de discutir e apresentar pensamentos sobre o andamento do mercado.
O papo de hoje é com o colecionador e publicitário Deimison Neves, de 32 anos. Desde meados dos anos 90, com a clássica fita verde da Disney, ele começou a colecionar não só com filmes em VHS, mas também as diversas gravações que fazia de filmes e séries televisivas, no formato citado. Aos poucos começou a ter edições de luxo de cineastas como Charles Chaplin (um de seus favoritos), Steven Spielberg e até chegar nas grandiosas lojas brasileiras como Versátil Home Vídeo e Obras Primas do Cinema
Engenharia: Como você começou sua Coleção? Qual seu primeiro título em mídia física
Deimison: Como todo colecionador nascido nos anos 1980 e 1990, minha coleção teve início com o VHS.
Ganhei minha primeira edição selada em 1997, a clássica fita verde de “Toy Story”, versão
dublada. Naquela época não tinha o menor cuidado e a emprestava regularmente, então hoje
ela carrega as marcas do tempo. Mas por outro lado isso significa que ela tem muita história,
que proporcionou divertimento para muitas pessoas. Preservo ela na coleção até hoje.
A partir daí, sempre que possível, pedia fitas de presente aos meus pais (basicamente filmes da
Disney). Também comprava muitas VHS’s usadas de videolocadoras. Paralelamente, por
influência de meu irmão mais velho, comecei um hobby que perdurou por muito tempo: gravar
filmes e programas da TV.
Imagem: Autor (Divulgação)
Acumulei centenas de fitas com as mais diversas gravações. A maior parte delas ainda guardo com muito carinho. De vez em quando as coloco no videocassete e fico relembrando aqueles bons tempos. Ainda hoje tenho um enorme carinho pelo VHS.
Imagem: Autor (Divulgação)
Minha entrada no mundo do DVD ocorreu em 2004. Até então era uma criança/pré-adolescente
que assistia apenas animações e filmes mais comerciais. Tudo mudou quando uma professora
de História exibiu em aula o filme “Tempos Modernos“, de Charles Chaplin. Perdoe o clichê, mas
foi amor à primeira vista! Fiquei fascinado por aquelas imagens em preto e branco e pela
estrutura do cinema mudo, muito embora o filme contenha alguns poucos diálogos. No mesmo
dia cheguei em casa e passei a pesquisar sobre esse grande artista na internet. Curiosamente, a
Warner acabava de anunciar a pré-venda da “Coleção Chaplin” em DVD, que traria 4 grandes
clássicos do mestre (incluindo “Tempos Modernos“) em um primeiro volume. Não tive dúvidas:
passei a infernizar meus pais para comprarmos um aparelho de DVD e passei meses juntando
moedinhas para adquirir essa edição. Depois de muita espera, finalmente coloquei minhas mãos
nessa caixa maravilhosa, que é, sem dúvidas, o grande xodó da minha coleção.
Depois disso a coisa foi crescendo naturalmente. Passei a comprar diversos clássicos, tanto na
internet como nas lojas físicas. Conheci a Versátil Home Vídeo e me encantei. Sem dúvida alguma
ela tornou-se minha distribuidora favorita. Tenho todos os blu-rays lançados por ela, bem como
boa parte dos DVD’s.
Imagem: Autor (Divulgação)
Tive um grande hiato entre 2009 e 2019, em que comprava apenas algumas poucas edições que
mais me interessavam. Em 2020, por conta da pandemia, retomei o hobby do colecionismo. Tive
que correr atrás, portanto, de tudo aquilo que ainda não tinha. Acho que é uma corrida sem fim [risos].
Engenharia: Qual seus maiores títulos da coleção?
Deimison: Essa é uma pergunta muito difícil, pois tenho muito carinho por todas as edições que
compõem a minha coleção. Mas certamente existem aquelas que são muito especiais. As
edições da Versátil, por exemplo, são verdadeiros tesouros para qualquer cinéfilo. A curadoria
do Fernando Brito é simplesmente brilhante e a qualidade do material, tanto em Blu-Ray como
em DVD, é incrível.
Imagem: Autor (Divulgação)
Também adoro as edições da Obras-Primas do Cinema, principalmente as edições com curadoria
do Rodrigo Veninno. Acho impressionante como um rapaz tão jovem é capaz de fazer um
trabalho tão primoroso. As caixas temáticas de cineastas, atores/atrizes e movimentos
cinematográficos são maravilhosas. O outro curador, o Thiago [Alves], também é excelente. As edições
em Blu-Ray com curadoria dele, são de uma qualidade impressionante. Mas só para citar algumas de minhas edições favoritas (sem ordem de preferência):
- “Coleção Chaplin” lançada pela Warner (DVD);
- “Chaplin: A Obra Completa”, lançada pela Versátil (DVD);
- Coleção “Steven Spielberg: Director’s Collection” (Blu-ray);
- Coleção Essencial, lançada pela Versátil (Blu-ray);
- Edição especial de “Era Uma Vez na América” (meu filme favorito), duplo, com luva e
livreto lançada pela Warner (Blu-ray); - O barril de “Breaking Bad” (Blu-ray);
- Gift set importado de “E o Vento Levou” (Blu-ray);
- Coleção importada “Clint Eastwood: The Blu-ray Collection” (Blu-ray);
- Edição especial de “Contatos Imediatos do Terceiro Grau”, que acende e toca o tema
do filme (4K); - VHS de “Jurassic Park”, que simula um fóssil;
- Gift set nacional de “O Poderoso Chefão” (Blu-ray);
- Edição francesa em digipack de “Os Imperdoáveis” (4K);
- Coleção Alfred Hitchcock: A Obra-prima (Blu-ray);
- Edição importada “James Dean: Ultimate Collector’s Edition” (Blu-ray);
- Edição nacional com a duas primeiras temporadas de “Twin Peaks” (Blu-ray);
- Planeta dos Macacos: Evolution Collection (Blu-ray);
- Gift set de “Cinemagia” (Blu-ray);
- Trilogia Evil Dead, lançada pela Obras-Primas do Cinema (Blu-ray);
- Coleção “A Arte de…”, lançada pela Versátil (DVD);
- Coleção “O Cinema de…”, lançada pela Versátil (DVD);
- Gift set importado de “Lost” (Blu-ray);
- Edição especial de “Guerra Paz”, lançada pela CPC-Umes (Blu-ray);
- Coleção “Buster Keaton”, lançada pela Obras-Primas do Cinema (DVD).
Imagem: Autor (Divulgação)
Engenharia: Com relação aos importados. Quais quesitos você acredita que compensa, na hora de trazer um título para sua coleção?
Deimison: Até 2020 nunca havia comprado uma edição importada. As primeiras certamente vieram de
ofertas da Amazon brasileira. Depois passei a comprar na CD Point e também no Mercado Livre
e no Shopee (novos e usados).
Imagem: Autor (Divulgação)
O critério principal para a compra de importados é a indisponibilidade no Brasil. Se um filme não
foi lançado por aqui, se é muito raro ou se a edição de fora é mais completa, procuro pela versão
importada. Sempre dou preferência para edições com legendas PT-BR (para mim dublagem não
faz diferença), pois gosto de apresentar filmes à minha esposa, que não é fluente em língua
inglesa. Se eu quero muito o filme e não há outra opção, acabo comprando uma edição sem
opções em nosso idioma, desde que o preço valha a pena.
Engenharia: Além de mídia física, você coleciona outras coisas?
Deimison: Sim, também tenho uma coleção de livros, principalmente sobre cinema. São obras sobre
teoria cinematográfica, crítica, história do cinema, análise fílmica, biografias de grandes
personalidades etc. Para mim, assistir apenas o filme não basta. Preciso correr atrás de mais
informações sobre a obra e sobre os artistas que a criaram. É um processo de submersão mesmo.
Por conta disso, valorizo muito as edições em mídia física que possuem muito extras, como as
da Versátil. E os livros são complementos incríveis. Muito de meu conhecimento cinematográfico
advém de obras essenciais sobre a sétima arte. Só para citar algumas (todas disponíveis em
português):
- Hitchcock/Truffaut: Entrevistas (François Truffaut);
- A Arte do Cinema (David Bordwell e Kristin Thompson);
- Sobre a História do Estilo Cinematográfico (David Bordwell);
- História do Cinema (Mark Cousins);
- A Magia do Cinema (Roger Ebert);
- Grandes Filmes (Roger Ebert);
- Criando Kane (Pauline Kael);
- 1001 Noites no Cinema (Pauline Kael)
- Story (Robert McKee);
- Minha Vida (Charles Chaplin);
- Uma Viagem Pessoal Pelo Cinema Americano (Martin Scorsese e Michael Henry Wilson);
- Lanterna Mágica (Ingmar Bergman);
- Fazendo Filmes (Sidney Lumet);
- A série “Conversas com…” (Kubrick, Scorsese e Woody Allen), lançada pela saudosa editora
Cosac Naify;
Imagem: Autor (Divulgação)
Além disso, também tenho uma pequena coleção de LP’s com trilhas sonoras e objetos
decorativos de filmes. Como podem ver, tudo está relacionado ao cinema, que é a minha grande
paixão.
Engenharia: Quais os maiores problemas que você acha que a comunidade de mídia física enfrenta?
Deimison: Como disse anteriormente, fiquei 10 anos afastado desse universo e só retomei o hobby
recentemente. Não sou de ficar interagindo muito nas redes sociais, mas sempre que possível
acompanho algumas discussões. O maior problema que vejo atualmente é a falta de união dos
colecionadores. Não vejo as pessoas se unindo em prol do nosso mercado. Uma grande
evidência disso foi o fracasso da campanha criada pelo Blog do Jotacê para incentivar as
empresas a produzirem players novamente. Pouquíssimas pessoas aderiram.
Há outras situações muito lamentáveis. Quando surge uma boa oferta, por exemplo, existem
pessoas que ao invés de compartilharem com os membros da comunidade acabam comprando
diversas unidades para vender mais caro depois. Isso aconteceu com aquela promoção
relâmpago do steelbook de “1917”, vendido a R$ 19,90 no final de 2021. De uma hora para outra
acabou todo o estoque da Amazon e dias depois surgiram diversos anúncios no Mercado Livre e
no Shopee com o filme sendo vendido por um valor muito mais alto. Sei que vivemos em um
mundo capitalista, mas isso, na minha opinião, é uma grande prova da total ausência de empatia
por parte de algumas pessoas da comunidade.
Imagem: Autor (Divulgação)
Outra coisa que me incomoda são as constantes brigas e picuinhas entre grupos e entre usuários
de um mesmo grupo. Nosso mercado já é pequeno e tudo isso só atrapalha e impede o seu
crescimento.
Atualmente tenho interagido muito mais em grupos de WhatsApp. Dois deles são bem especiais:
o grupo “Cult com muito orgulho”, criado pelo Piero Levy, onde pude encontrar uma grande
quantidade de pessoas com gostos cinematográficos muito parecidos com os meus; e o grupo
“Colecioneiros”, criado pelo Bruno Tiozo e pelo Rodrigo Demétrio, onde tive a oportunidade de
conhecer um pessoal muito bacana da minha região (Campinas/SP) e que compartilha comigo o
amor pelo cinema.
Gabriel Fernandes: Engenheiro de Computação, Cineasta e Critico de Cinema, resolveu compartilhar seu conhecimento sobre cinema com todos aqueles que apreciam essa sétima arte.
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