Crítica - Peter Pan & Wendy - Engenharia do Cinema
Em meio a várias catastróficas adaptações cinematográficas dos famosos contos de fadas da Disney, “Peter Pan & Wendy” não foge desta onda de bombas do estúdio. Tentando tirar o projeto do papel desde 2016, o cineasta David Lowery (do aclamado “A Lenda do Cavaleiro Verde“) sempre dizia que este era o “conto que marcou sua infância” e que “sonhava em dirigir a adaptação em live-action”. Sendo responsável pela direção e roteiro (junto de Toby Halbrooks), fica perceptível que em momento algum ele realmente gostava do conto, de tamanho descuidado que ele teve em seu trabalho (em vários aspectos).
Imagem: Walt Disney Pictures (Divulgação)
Inspirado no conto original de J.M. Barrie (que possui o mesmo título deste filme) e na própria animação da Disney, de 1953, a história é exatamente a mesma que todos nós já conhecemos, com Wendy (Ever Anderson) e seus irmãos que são levados por Peter Pan (Alexander Molony) para a Terra do Nunca. Ao chegarem ao local, eles reparam que nada é o que parece, ao terem de enfrentar o temido Capitão Gancho (Jude Law) e sua trupe de Piratas.
Imagem: Walt Disney Pictures (Divulgação)
Confesso que nos minutos iniciais, realmente o projeto se mostra como convincente em vários sentidos, ao mostrar exatamente situações que se assemelham ao desenho de 53. Porém, quando Peter e Sininho (Yara Shahidi) entram em cena, tudo começa a decair. Seja por conta das atuações péssimas da dupla (que se resumem a lerem falas, apenas), da direção que não apenas vilaniza a imagem do primeiro (por meio de enquadramentos que lhe colocam como uma persona vilanesca), como também o próprio roteiro ainda coloca um plot pobre da relação entre ele e o Capitão Gancho (que acaba sendo mais uma bandidolatria, ao tentar ainda mais defender o vilão e nos afastar ainda mais de Peter).
Inclusive, fica vergonhoso ver Law aceitando este tipo de papel recentemente (uma vez que ele está cada vez mais perto de ser indicado a um Oscar, novamente), tanto que sua caracterização parece mais com o Pedro De Lara, do que uma presença amedrontadora que o próprio vilão sempre passou em todas as adaptações do conto.
Isso porque não entrei no mérito do design de produção, que é tão insosso e preguiçoso (com direito a CGI feito em programas de teste), fazendo a Terra do Nunca parecer uma prisão de Nutella, pois ela só se resume a morros verdes e um castelo abandonado (que pode ser visto em qualquer filme de guerra). Em contraponto, isso prejudica a imagem do próprio Peter, que lhe faz se assemelhar mais ainda como um “sequestrador”, ao invés de um amigo das crianças perdidas e de Wendy com seus irmãos.
E chega a ser bizarro sentir que em momento algum, a mensagem original do conto que é “seja para sempre uma criança, mas com responsabilidades”, sequer é apresentada ou executada neste projeto. A única mensagem que este filme mostra é “a Wendy é uma heroína da Marvel” (vide o penúltimo arco) e o “Peter Pan é pior que o Thanos”. Por essas razões, a versão de 2003 ainda continuará sendo a melhor adaptação cinematográfica do personagem (mesmo tendo sido um fracasso de bilheteria e público, na época).
“Peter Pan & Wendy” continua mostrando que a Disney ainda está totalmente perdida em suas adaptações, e novamente o estúdio nos entrega uma produção sem vida, cansativa e vergonhosa.