Crítica - A Pequena Sereia - Engenharia do Cinema
Desde que foi anunciado no final de 2019, o live-action de “A Pequena Sereia” foi envolto de várias polêmicas pela escolha da então desconhecida Halle Bailey para interpretar Ariel (devido ao fato de sua etnia ser diferente para a personagem, em relação a animação). Depois de quase quatro anos (uma vez que o mesmo teve suas gravações paradas em meio ao lockdown, de 2020), finalmente a Disney lançou o projeto nos cinemas.
Confesso, que Bailey consegue ser uma das poucas coisas boas na obra, uma vez que seu principal problema caí em cima do aspecto técnico, devido ao fato da direção ser assinada por Rob Marshall (que fez vários filmes para a Disney, como “O Retorno de Mary Poppins” e “Caminhos da Floresta“), pelo qual já deixou claro que não serve para conduzir tomadas de ação.
Imagem: Walt Disney Pictures (Divulgação)
A história é a mesma da animação de 89 (que ajudou a salvar a Disney de uma então enorme crise de falência, similar a qual a própria está entrando novamente), onde a jovem sereia Ariel acaba se apaixonando pelo misterioso humano, Principe Eric (Jonah Hauer-King). Ciente da situação, a maléfica Ursula (Melissa McCarthy) lhe impõe trocar a chance de viver fora do mar, em troca de sua voz.
Imagem: Walt Disney Pictures (Divulgação)
Em seus primeiros minutos, somos surpreendidos pelo clássico problema do “Vale da Estranheza“, uma vez que apesar do design de produção e cenário remeterem a realidade (devido a enorme qualidade neste quesito do CGI), a caracterização dos seres marítimos estão não apenas estranhas, como assustadoras.
Isso acaba chamando bastante a emoção de personagens como Linguado (dublado por Jacob Tremblay, e está bastante apagado aqui), Sebastião (cuja dublagem de Daveed Diggs, é uma das melhores coisas) e Sabidão (cuja dublagem de Awkwafina, está totalmente descasada com o próprio em vários sentidos). E chega a ser engraçado que nos números musicais, apenas o segundo consegue mandar bem na execução, já que o primeiro e terceiro estão perdidos e não casam em absolutamente nada.
Porém, devo dizer que o trabalho de Bailey como atriz consegue ser bom, dentro da proposta (uma vez que este tipo de papel não exige uma grande carga dramática). Ela consegue cantar bem e encantar o espectador com aquela sensibilidade e agrado de uma “Princesa da Disney” (algo que havia sumido das produções do estúdio). E isso acaba sendo prejudicado, ao tentarem colocar Hauer-King como seu par amoroso, uma vez que este não é só péssimo ator (até um peixe em uma vitrine de peixaria, tem mais emoção), como também não possuí química alguma com aquela.
Diferente de Javier Bardem, que casa perfeitamente como o Rei Tritão (seja na maquiagem ou no porte). Só, que o próprio nitidamente foi prejudicado pelo trabalho do roteiro de David Magee (que já foi indicado ao Oscar pelo roteiro de filmes como “As Aventuras de Pi” e “Em Busca da Terra do Nunca“), que não explora o próprio e aprofunda de uma maneira, que nos faz se aproximar de suas teorias e pensamentos.
O mesmo pode-se dizer da Úrsula de Melissa Mccarthy, que foi totalmente prejudicada por causa do roteiro, direção e edição. A sequência onde ela negocia com Ariel por sua voz e a batalha final (que parece ter sido tirada da franquia “God of War“), chegam a ser vergonhosas e confusas (tudo parece ser jogado e não há emoção).
Nestas horas vemos o quão o diretor Rob Marshall é limitado, pois enquanto em uma sequência musical ele sabe conduzir perfeitamente, quando parte para a ação (vide a cena de um navio pegando fogo em plena tempestade, pela qual chega a ser hilária) ele opta por tomadas escuras, cortes abruptos e não mostra nada direito (o que acaba sendo um recurso para economizar detalhes na pós-produção, ao invés de transpor algum tipo de emoção).
“A Pequena Sereia” não chega a ser uma bomba como muitos pensam, e sim um live-action que precisava ter sido melhor conduzido no aspecto técnico e com um diretor melhor.