Crítica - Living - Engenharia do Cinema
Se tratando de um remake de um clássico do cineasta japonês Akira Kurosawa (que até hoje é um dos maiores nomes do cinema), é algo bastante difícil de se pensar e executar. Lançado em 1952, “Viver” se passava totalmente no país natal deste, em Tóquio, enquanto essa nova versão de 2022, foi para Londres, na Inglaterra. Apesar de ter reconhecimento do Oscar, apenas na atuação do veterano Bill Nighy (que entregou o melhor papel de sua carreira aqui), não hesito em dizer que a Academia errou muito ao não ter indicado essa produção em mais categorias (principalmente em filme e fotografia).
Imagem: Sony Pictures (Divulgação)
Após receber um diagnóstico que terá poucos meses de vida, o burocrata Williams (Bill Nighy) passa a analisar sua vida de uma outra maneira, assim como as pessoas ao seu redor.
Imagem: Sony Pictures (Divulgação)
Estamos falando de um filme bastante simplório em vários sentidos, mas que ao mesmo tempo que seus diálogos e interpretação ácida de Nighy, sejam o grande peso dessa narrativa. Sua voz arrastada, seu olhar cansado e a transposição do impacto que a notícia está abalando em sua vida, são perceptíveis de uma maneira, que nos colocamos em sua situação (fator que só é sentido por causa das atuações e não apenas o roteiro).
Deixo ainda menções honrosas para Aimee Lou Wood (Margaret Harris), que saiu da série “Sex Education” se mostrando uma ótima atriz dramática, e casa perfeitamente como contraponto de Nighy; Tom Burke (Sutherland), que aparece relativamente pouco, mas é crucial para o andar da trama e a dupla Barney Fishwick e Patsy Ferran (que interpretam os filhos de Williams).
Vale ressaltar que este filme só vai funcionar perfeitamente, se você não entrar no mérito de comparação ao clássico de Kurosawa (que até hoje é considerado um dos melhores filmes da história). E como o diretor Oliver Hermanus é nitidamente fã do próprio, e ele homenageou ao original de maneira sutil, por intermédio dos enquadramentos leves da ambientação, regada pela fotografia de Jamie Ramsay (“Distrito 9”), com tonalidades geladas e acinzentadas (que remetem ao filme de 52).
“Living” termina sendo uma verdadeira aula de como se fazer um ótimo remake de um clássico, ao mesmo tempo que não se prende na imagem do original ou tenta ser superior.