Crítica - Jogos Mortais X - Engenharia do Cinema
Criada em 2004 por James Wan e Leigh Whannell, a franquia “Jogos Mortais” revolucionou o gênero de horror em vários sentidos. Porém, depois do terceiro, apesar de quase todos terem sido sucessos de bilheteria e conseguirem se pagar (já que o orçamento médio de cada título é cerca de US$ 8 milhões), a fórmula já ia mostrando um certo desgaste.
Com o spin-off “Espiral”, que foi criado por meio de uma ideia de Chris Rock (que também estrelou o projeto), uma possibilidade foi aberta neste cenário, pelo qual era possível estabelecer uma história dramática, entrelaçada com os jogos criados pelo serial Jigsaw. Em “Jogos Mortais X” essa ideia não é só mantida, como conseguiu resultar no melhor título da franquia, desde o primeiro.
Imagem: Paris Filmes (Divulgação)
A história se passa entre os arcos dos primeiros longas, com o serial-killer John Kramer (Tobin Bell) descobrindo que seu câncer cerebral está em estágio terminal. Eis que um colega do seu grupo de apoio, lhe apresenta uma possibilidade de tratamento de cura, no México. Após realizar o procedimento, ele descobre que foi vítima de um golpe e então resolve se vingar destes, os colocando dentro de seus sádicos jogos.
Imagem: Paris Filmes (Divulgação)
O roteiro da dupla Josh Stolberg e Pete Goldfinger (que já haviam escrito os outros dois últimos títulos da franquia) procura estabelecer em um primeiro momento, a imagem de Kramer como um homem comum, que está cada vez mais desgastado pela doença e nitidamente está reavaliando sua vida, e dando valor para as pequenas coisas.
Tanto que pela primeira vez vemos que Bell é um ótimo ator dramático, em vários sentidos. Seja por sua voz, feições que aparentam ser uma pessoa doente, mas que em uma simples conversa com uma criança, em momento algum conseguimos ver que este era o mesmo senhor que projetou tudo o que vimos na maior parte da franquia.
Agora, quando sua vingança é executada, pela primeira vez o espectador é pego torcendo para o próprio John Kramer, ao invés das “vítimas”. Contendo as mais pesadas e tensas cenas de tortura de toda franquia (inclusive, é impossível não se contorcer na maioria dos jogos), isso fica sendo uma cereja do bolo ao se tratar de que as pessoas ali, são piores que o próprio antagonista. Não há pudor em mostrar algumas mutilações e a violência acaba sendo a mais extrema o possível.
Mas pegando carona em algumas tradições da franquia, o diretor Kevin Greutert continua repetindo alguns erros tradicionais como flashbacks constantes para explicarmos o óbvio e tomadas que balançam a câmera sempre que algo dá errado (isso meio que já virou clichê na franquia). Só que ele tem acertado no quesito de deixar o impacto ser mostrado, uma vez que a fotografia de Nick Matthews não apela para a escuridão nas horas dos jogos, mas sim para a pastilha amarelada usada sempre que vemos algum país latino em cena.
“Jogos Mortais X” mostra que é possível uma franquia conseguir se reinventar depois de 20 anos, e 10 filmes que continuam sendo sucessos de bilheteria.