Crítica - Godzilla Minus One - Engenharia do Cinema
Criado em 1954, pelo produtor cinematográfico Tomoyuki Tanaka, em conjunto com Ishirō Honda, Eiji Tsuburaya (responsável por efeitos visuais) e Akira Ifukube (compositor), o monstro Godzilla nada mais é que uma personificação do medo dos japoneses com as armas nucleares, uma vez que o país tinha sofrido alguns anos antes com a bomba atômica de Hiroshima (que foi atirada em agosto de 1945).
Desde então várias versões do personagem vem sido apresentadas nos cinemas, como nos recentes “Godzilla vs Kong” (cuja continuação chegará em abril de 2024) e a série da Apple “Monarch: O Legado dos Monstros”. Mesmo com as últimas roupagens estadunidenses do Godzilla terem não apenas afrouxado ele bastante (deixando como um mero figurante em seus próprios filmes, além de sua presença não soar tão ameaçadora), “Godzilla Minus One” chegou como uma comemoração aos 70 anos de sua criação e um verdadeiro resgate do cinema blockbuster (em uma era onde achavam que longas como “As Marvels”, iriam lotar as salas).
Imagem: Sato Company (Divulgação)
A história se passa em meados de 1946, e mostra o piloto camicase Koichi Shikishima (Ryunosuke Kamiki), que acaba presenciando um enorme massacre de seus colegas militares pelo próprio Godzilla. Alguns anos depois, conforme ele ia levando uma vida normal, ele acaba se reencontrando com o monstro e o fará entrar em uma luta pessoal contra o próprio.
Imagem: Sato Company (Divulgação)
O roteiro e direção de Takashi Yamazaki primeiramente se preocupa em seu prólogo deixar claro a gravidade da ameaça do Godzilla, em meio a população japonesa. Com uma sequência totalmente assustadora e impactante, fica nítido que este não será um filme onde ele terminará chocando um ovo em plena cidade (ao invés de promover uma ameaça gigantesca). Fica a dica Rolland Emmerich. Isso sem citar o CGI da concepção do monstro, remete ele a algo existente (provavelmente vai levar o Oscar de efeitos visuais).
Com um orçamento de US$ 15 milhões de dólares (R$ 74,14 milhões), chega a ser inacreditável tamanha a qualidade que Yamazaki executou aqui. Como a mixagem de som focando em vários detalhes que antecipam a chegada do Godzilla, assim como os mínimos detalhes que ele insere no quesito narrativo, como os peixes específicos que sempre brotam a beira do mar.
Já na pegada dos personagens humanos, acerto foi deixar o protagonismo apenas para Koichi Shikishima (Ryunosuke Kamiki), pois além de casar direitinho com uma pessoa que engloba os problemas daquele cenário, seu desenvolvimento combina como um ótimo ponto do cenário caótico feito pelo Godzilla (algo que os últimos filmes estadunidenses do personagem, não fizeram).
“Godzilla Minus One” é uma verdadeira lição da indústria cinematográfica japonesa, de como se consegue fazer um ótimo blockbuster de ação com pouco orçamento e foco total no verdadeiro interesse do público: o próprio Godzilla.