Crítica | 'Ferrari' é uma junção de 'Corrida Maluca' e 'Casos de Família', que dá certo - Engenharia do Cinema
Tentando tirar este projeto do papel desde os anos 90, o cineasta Michael Mann (“Fogo Contra Fogo”) ouviu vários “Nãos” por grande parte de Hollywood. Em 2015, por intermédio da STX Entertainment, ele viu que finalmente poderia tirar a cinebiografia de Enzo Ferrari do papel e tratou de escalar Christian Bale (que já haviam feito juntos “Inimigos Públicos”, em 2009) para interpretar o empresário. Por conta de conflitos de agenda, ele teve de se abster do papel, que foi para Hugh Jackman e por conta do mesmo motivo, foi passado para Adam Driver, em 2022.
Infelizmente vem sendo um fracasso mundialmente, pois custou US$ 110 milhões e até o presente momento rendeu apenas US$ 40.25 milhões.
Imagem: Diamond Films (Divulgação)
Embora não apresente a fundação da Ferrari em si, o enredo inspirado no livro de Brock Yates foca totalmente no período de crise que a empresa viveu em 1957, quando estava prestes a cogitar uma eventual venda para a Ford. Diante deste cenário Enzo (Driver) e sua esposa Laura (Penélope Cruz), veem uma nova e última chance de conseguirem se reerguer ao apostar suas fichas na corrida de Mille Miglia, que percorrerá uma longa distância por toda Itália.
Imagem: Diamond Films (Divulgação)
Mann é um diretor que já comprovou que sabe conduzir cenas dramáticas e de ação (“Fogo Contra Fogo” está aí para comprovar), e aqui ele deixa isso explícito desde o princípio. Logo nos primeiros 15 minutos, ele explana que a narrativa terá como foco a conturbada relação de Enzo e Laura, que ainda carregam a morte precoce de seu único filho.
Enquanto ele desconta seus dramas na vida paralela com sua amante Lina Lardi (Shailene Woodley, bem deslocada no papel), cuja relação teve como fruto o então pequeno Piero (Giuseppe Festinese), Laura ainda transparece o drama de ter perdido quem mais se importava. Em excelente atuação de Cruz (embora ela ainda carregue muito o estilo de Maria Helena, em “Vicky Cristina Barcelona”, papel que lhe rendeu seu Oscar), sentimos a todo momento que sua vida carrega traumas, decepções e literalmente seu sentido foi perdido há tempos. Pena ela não estar indicada ao Oscar.
O mesmo não se pode dizer de Adam Driver, que honestamente não conseguir casar bem com Enzo, pois seu sotaque italiano soa estranho e forçado na maioria da projeção (se assemelhando mais ao Super Mario, do que o fundador de uma das maiores empresas automobilísticas da história).
Há também espaço para a grande entrada do brasileiro Gabriel Leoni (que interpreta o piloto espanhol Alfonso de Portago), cujo estilo se assemelha a um jovem Antonio Banderas, mas sua presença em cena é digna de tal personagem e ofusca até grandes colegas de cena como Patrick Dempsey (intérprete de Piero Taruffi).
Agora partindo para as cenas de ação, Mann mostra que não depende de CGI para explanar boas tomadas deste gênero. Por exemplo, o arco envolvendo um determinado acidente (que até hoje é um dos piores na história das corridas) que choca por conta de seu teor cru de violência gráfica. Nas mãos de um diretor errado, isso sequer seria mostrado.
“Ferrari” termina sendo um retorno triunfal de Michael Mann, e é mais outro injustiçado em várias categorias no Oscar 2024.