Crítica | Embora seja uma 'Ficção Americana', o retrato é cada vez mais verídico - Engenharia do Cinema

publicado em:5/03/24 10:02 AM por: Gabriel Fernandes Amazon PrimeCríticasFilmesTexto

Chegando sem alarde ao catálogo do Prime Video, “Ficção Americana” foi o mais ofuscado entre os 10 selecionados no Oscar 2024, pois além de estar entre os indicados na categoria principal, o título está concorrendo em melhores ator (Jeffrey Wright), ator coadjuvante (Sterling K. Brown), roteiro adaptado e trilha sonora. Ao começar a conferir o longa de Cord Jefferson, em poucos minutos percebi o que fez isso ter acontecido: o enredo é uma ácida crítica ao cenário social atual, onde a voz do marketing é mais importante do que a própria causa (o que é neste caso, o racismo).

Mesmo com esta temática sendo executada de uma forma perfeita e ainda nos faz refletir, durante seu andamento, percebemos que não é um título que merecia realmente estar entre os indicados na principal premiação do cinema.

Imagem: MGM (Divulgação)

Baseado no livro de Percival Everett, sobre suas experiências diante do mercado literário, sendo interpretado por Jeffrey Wright, a história é um recorte do período onde ele foi contratado por seu editor para realizar uma obra que fosse focada na representatividade negra. Mesmo indo totalmente contra a ideia, aceita por estar precisando do cachê, e neste cenário se vê obrigado a criar um pseudônimo. Após o lançamento do livro, Everett se surpreende pelo sucesso da obra e de “sua versão fake”.

Imagem: MGM (Divulgação)

Em uma era onde um simples “eu não concordo” acaba gerando vários conflitos desnecessários, o cineasta Cord Jefferson foi bastante audacioso em trazer para as telonas nesta obra, principalmente quando estúdios de cinema e veículos de informação, estão fazendo exatamente isso para terem audiência. Inclusive, a melhor cena que resume isso é quando o chefe de Everett (John Ortiz), faz uma comparação deste cenário com as bebidas Label (Red, Black e Blue), pois são da mesma marca e todos consomem por conta de status. Uma forma de crítica original e sutil.

Como isso vem sendo escancarado cada vez mais de forma óbvia, a cada segundo, a obra de Jefferson também transparece que o ser humano está ficando não apenas ignorante, mas se importando apenas com seu próprio ego. A naturalidade na indignação de Jeffrey Wright, em cenas como no diálogo de abertura, onde uma estudante que queria mostrar que entendia “mais do que ele”, quando o assunto era racismo (e ela era nitidamente uma militante), já mostra o teor ácido da obra. Mas não chega a ser uma performance digna de indicação ao Oscar.

O mesmo pode-se dizer de Sterling K. Brown, que embora apareça pouco, seu personagem não foi bem escrito (embora se encaixe perfeitamente com a temática). Parece que foi meramente jogado e não há um tratamento com ele, neste cenário.

“Ficção Americana” é um retrato audacioso do cenário mundial atual, que nos faz refletir o quão o ser humano não sabe discernir os verdadeiros valores e luta das minorias, com mero marketing.   



Engenheiro de Computação, Cineasta e Critico de Cinema, resolveu compartilhar seu conhecimento sobre cinema com todos aqueles que apreciam essa sétima arte.


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