Crítica | 'Back To Black' apresenta uma Amy longe de Winehouse - Engenharia do Cinema
Amy Winehouse possui uma das mais trágicas carreiras no universo musical. Falecida em julho de 2011, sua vida foi regada de drogas, álcool e polêmicas em torno de seu comportamento rebelde (quase sempre por conta do excesso de substâncias em seu organismo). Sua nítida deterioração (que durante os seus últimos anos, estava apenas em pele e osso) foi alvo inclusive de pseudo-torcidas sobre quando ela iria falecer.
Era uma questão de tempo até Hollywood começar a produzir uma cinebiografia da cantora. Porém, “Back to Black” é um resgate para tentar amenizar a imagem turbulenta que a cantora tinha. Como a supervisão do projeto foi feita pelo próprio pai da cantora, Mitchell Winehouse, era de se esperar este tipo de abordagem.
Imagem: Universal Pictures (Divulgação)
Interpretada por Marisa Abela, a trama mostra Amy desde o tempo que começou a ser um sucesso mundial, enquanto iniciou um conturbado relacionamento com Blake Fielder-Civil (Jack O’Connell), que a fez se entregar para o álcool e drogas.
Imagem: Universal Pictures (Divulgação)
O roteiro de Matt Greenhalgh (“O Garoto de Liverpool”) parece que foi uma colcha de retalhos totalmente monitorada pelo próprio Mitchell. Além de o tempo todo vender Blake como o grande vilão da história, ele não apresentou o quão a imagem de Amy era fora dos arredores ingleses. Nem mesmo citações nas suas polêmicas turnês mundiais (principalmente a sua vinda ao Brasil, cujo esquema de segurança foi em nível de guerra) foram apresentadas.
Isso sem falar na pressa da narrativa ao mostrar como ela virou uma grande estrela, pois em uma cena ela está cantando em um bar e já no outro corte está como uma estrela mundial, sem nenhuma dificuldade ou problemas. Como estamos falando de uma cantora que teve sua decadência “glorificada” no começo da popularização das redes sociais, faltou também essa perspectiva. Tudo aqui se resume aos fotógrafos ao seu redor, fãs malucos e passeios pelas ruas de Londres.
Embora a atriz Marisa Abela se esforce para se parecer com a cantora (inclusive ela teve aulas de canto para se assemelhar ainda mais), o material que havia em suas mãos não fazia jus ao seu esforço. A sensação é que ao invés de estarmos presenciando uma cinebiografia, parece que víamos uma borracha que esfrega porcamente os erros e vivências de sua trajetória.
Conhecida por ter comandado o ótimo “O Garoto de Liverpool” (sobre a juventude de John Lennon), a diretora Sam Taylor-Johnson nitidamente fez este trabalho sob pressão. Nada vai mais além da conturbada relação entre Amy e Blake, como ele foi responsável por seu vício nas drogas e pelo fato de ter influenciado a realização da canção “Back to Black”.
Com uma narrativa embasada nas tatuagens da cantora, onde a mudança de capítulos é sutilmente feita pelo desenho de suas novas tatuagens, parece que ela tinha um potencial grande em mente e acabou barrada por motivos de força maior.
Em relação às músicas, embora muitos dos personagens sempre repitam que ela seja uma grande cantora, não é colocado o seu peso diante de um cenário musical. Um mero exemplo, é na retratação de um dos seus maiores sucessos, inclusive a presença de “Rehab” (cuja letra foi inspirada nas tentativas dos seus empresários em se internar em uma clínica de reabilitação) se resume a uma conversa entre Amy e seu Pai, seguida de uma edição já trata de colocar uma apresentação desta música ao receber o Grammy.
“Back to Black” termina como uma cinebiografia fraca, crua e infeliz, ao não ter aproveitado o peso do legado de Amy Winehouse.