Crítica | 'Furiosa' entretém, mas não encontra sua 'Estrada da Fúria' - Engenharia do Cinema
Não é novidade que “Mad Max: Estrada da Fúria” foi responsável por alavancar uma nova era cinematográfica, tratando de relacionar efeitos visuais, sequências de ação e um roteiro bem aprofundado. Mesmo não conseguindo uma bilheteria plausível, pois custou US$ 150 milhões e rendeu US$ 380 milhões, o projeto recebeu seis Oscars e uma legião de fãs.
Entre estes admiradores, muitos se tornaram fãs da personagem Furiosa (interpretada por Charlize Theron), que roubou a cena de Max (Tom Hardy). Desde então, o cineasta George Miller havia citado que sonhava em fazer um prequel focado na sua coadjuvante de luxo. Por conta de seu processo contra a Warner, por ganhos não recebidos por “Estrada da Fúria”, o projeto permaneceu engavetado (mesmo com o roteiro já estando pronto desde as gravações deste).
Depois de resolver esta questão, Miller deu início a produção de “Furiosa: Uma Saga Mad Max” e por conta do fator idade, trocou Theron por Anya Taylor-Joy e optou por deixar o icônico vilão Immortan Joe para escanteio e apresentar Dementus (Chris Hemsworth), que é ainda mais maquiavélico.
Imagem: Warner Bros Pictures (Divulgação)
A trama mostra como Furiosa foi sequestrada de sua família e mantida em cativeiro por Dementus, e após conseguir escapar, começa a trabalhar para Immortan Joe e planejar sua vingança.
Imagem: Warner Bros Pictures (Divulgação)
Com uma metragem de quase duas horas e meia, Miller divide simetricamente muito bem os capítulos da trajetória de Furiosa e Dementus. Os dois primeiros arcos trabalham isso para não apenas adentrarmos naquele universo (principalmente aqueles que estão chegando agora, e não o conhecem direito), mas se familiarizarmos com a protagonista, assim como as motivações de seu rival.
Por conta disso, duas atrizes interpretam fases diferentes de Furiosa. No primeiro momento de sua desconstrução, Alyla Browne convence apenas com seus olhares e poucas palavras. Após um salto temporal, ela é trocada por Taylor-Joy e cabe a ela já nos entregar o que Theron havia feito antes. Mesmo funcionando dentro deste contexto, não há como comparar a tonalidade, pois o estilo de ambas é bem diferente.
Em relação a Hemsworth, com um sotaque e visual bastante diferente de seu habitual, temos um vilão que gosta de ser mal por prazer e ele transparece isso desde sua primeira aparição. Porém, ele não chega a roubar tanto a cena quanto deveria.
Voltando ao aspecto técnico, ficou perceptível que a própria Warner impôs alguns limites para Miller realizar este filme. Não há mais o excesso de efeitos especiais práticos, com um CGI usado de forma sutil e a gravação ocorrendo durante meses em pleno deserto. Tudo foi metricamente dosado, para o orçamento não passar da casa dos US$ 168 milhões.
Mesmo com a sequência do clímax durado 78 dias para ser gravada, fica perceptível que agora a maior parte do longa teve auxílio de CGI e foi idealizada em estúdios fechados (para usufruir melhor do Chroma Key). Porém, isso não chega a atrapalhar a experiência, que consegue captar nossa atenção e seguirmos interessados com os próximos desdobramentos de sua jornada de vingança (embora o final já saibamos).
Para não falar que os erros passam despercebidos, o roteiro do próprio Miller com Nick Lathouris (que também escreveu “Estrada da Fúria”), usufrui de alguns clichês habituais para facilitar a solução de complexidade em alguns arcos (tanto que chega a ser bizarro a quantidade de vezes que isso acontece no primeiro arco).
“Furiosa: Uma Saga Mad Max” é um prequel de qualidade, mas parece que não conseguiu pegar a mesma estrada para apresentar a fúria que nós queríamos ter visto.