Crítica | Ainda Somos os Mesmos - Engenharia do Cinema
Os envolvidos na área do cinema nacional sabem que existem temáticas onde, se bem exploradas, podem render bons frutos. O período da ditadura militar, por exemplo, já nos entregou obras excelentes como “O Que É Isso Companheiro?” (que foi indicado ao Oscar de filme estrangeiro) e o polêmico “Marighella”.
Em “Ainda Somos os Mesmos”, o cineasta Paulo Nascimento mostra uma visão mais além deste período e o quão ele era mais complexo em relação à América do Sul como um todo.
Inspirado em fatos reais, a trama se passa no começo de 1970 e acompanha o jovem Gabriel (Lucas Zaffari), que para escapar das punições da ditadura militar resolve se esconder no Chile. Porém, quando o país também passa a viver um cenário de golpe, ele busca asilo na embaixada da Argentina e começa uma nova jornada para escapar de lá. Ao mesmo tempo, seu pai Fernando (Edson Celulari), tenta negociar com os militares o seu retorno para o Brasil.
Nascimento possuía um ótimo material em mãos e se fosse bem conduzido, o espectador poderia até se emocionar. Infelizmente, ele optou por recortes de algumas situações para resumir em 90 minutos, os três anos que Gabriel viveu recluso no Chile. Poderia até funcionar, se ele tivesse um rumo específico.
Diante deste contexto, de um lado temos um Zaffari sem expressões, mesmo em situações tensas e complicadas. Enquanto no outro, há uma Carol Castro nitidamente inspirada em Margot Robbie no papel de Arlequina. Por conta desses descuidos, fica explícito que sua direção não é das melhores. Antes este fosse o menor dos problemas.
Regados a flashbacks constantes, cortes brutos (que deixam situações sem contexto ou profundidade) e sequências com uma trilha sonora forçada (que contam com um famoso “tamtam”, em alguma frase de efeito), só restou a Nascimento colocar uma seta na cabeça dos personagens para indicar o significado de suas frases de efeito. Não existe um trabalho para nos conectarmos com os personagens ou termos suspense em cenas cruciais, pois a direção sempre procura mudar o foco no meio do caminho.
Um exemplo é em uma cena onde os militares estão prestes a invadir a embaixada argentina. Nisso, a edição fica intercalando com o embaixador encarando os militares, para o grupo de brasileiros que observa a cena. Isso sem citar a trilha sonora que quebra a situação.
Em outra situação, há a inserção de um bordão do ex-presidente Bolsonaro, apenas como intuito de “polemizar”. Diante deste caos, parece que estamos falando de um projeto feito por alunos da quinta série. Isso porque não entrei na vertente do epílogo, que tira todo o foco do cenário apresentado no filme e procura causar polêmica em acontecimentos recentes no país.
Porém, há um respeito nítido com os chilenos e argentinos, pelos quais os atores e personagens dessas nacionalidades falam em seus idiomas nativos. Isso deve-se ser valorizado sempre.
“Ainda Somos os Mesmos” é mais uma ótima oportunidade que o cinema nacional teve de entregar uma emocionante história real, mas desperdiça tudo.