Crítica | Ainda Estou Aqui - Engenharia do Cinema
Com o inesperado sucesso no Festival de Veneza 2024, junto a forte campanha feita pela Sony, “Ainda Estou Aqui” se mostrou como um forte candidato ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2025, além de possivelmente receber indicações para Fernanda Torres e Selton Mello. Baseado no livro de memórias de Marcelo Rubens Paiva, a trama sabe como retratar um período tenso na história do Brasil, pelos quais nem sempre se sabe como conduzir.
Durante o período da ditadura, no começo dos anos 70, o ex-político Rubens Paiva (Mello) é levado por militares e desaparece. Diante de um cenário de incertezas, sua esposa Eunice (Torres) começa uma busca pelo seu paradeiro.
O diretor Walter Salles (também responsável pelo indicado ao Oscar “Central do Brasil”), sabe como contar uma história sem taxar o espectador de burro ou constantemente desenhar os sentimentos dos seus personagens. Suas emoções, medos, incertezas e decisões, são absorvidos pelo espectador e não apenas interpretados.
Um exemplo são os olhares de Eunice. No começo eles são voltados de amor e carinho por Rubens, mas após seu sumiço eles passam a ser uma arma de desconfiança de tudo e todos ao seu redor (vide as tomadas onde ela está dirigindo). Mesmo com uma participação breve, a própria Fernanda Montenegro também usufruiu desta mensagem.
Outro detalhe interessante, é a presença do cachorro Pimpão que serve como uma presença onipresente de Rubens durante boa parte da projeção. Ao dar o nome ao animal (logo nas primeiras cenas), mesmo após relutar sua presença, ele sutilmente demonstra o quão ele era um homem carinhoso com o próximo.
Salles ainda encontra espaço para inserir constantes referências ao longa “O Que é Isso Companheiro?” (também estrelado por Torres e Mello), cuja trama se passa ao mesmo tempo do arco mostrado aqui. Com narrações em off do próprio Cid Moreira (que chegou a gravar diálogos para o longa, ainda em vida), a presença do jornalismo factual também marca presença.
Além disso, ele apresenta homenagens à importância do cinema em relação às memórias da família de Paiva. Com câmeras Super 8, rolos de filmes e olhares cinematográficos, o recurso funciona como uma humanização dos protagonistas. É um detalhe sutil, mas fará e muito a diferença na hora da escolha dos indicados e vencedores do Oscar, pois os membros da Academia adoram isso.
“Ainda Estou Aqui” é uma produção que deve ser visitada pelo menos uma vez pelos cinéfilos, pelos quais necessitavam de uma obra que demonstrasse que o cinema brasileiro ainda possui recursos para contar uma importante história.