Crítica | Arca de Noé - Engenharia do Cinema
Mesmo com “Ainda Estou Aqui” elevando o patamar do cinema nacional mundialmente, a animação “Arca de Noé” contradiz totalmente os padrões de qualidade. Realizado em parceria com o estúdio indiano Symbiosys, com um orçamento na faixa dos US$ 6,3 milhões, a trama é inspirada nas músicas de Vinicius de Moraes. Inclusive a produção executiva é assinada pela sua filha mais velha, Suzana de Moraes com o próprio Walter Salles (responsável também pelo longa citado).
Em parceria com o estúdio indiano Symbiosys, a dublagem é composta por um elenco estelar com nomes como Rodrigo Santoro, Marcelo Adnet, Alice Braga, Lázaro Ramos, Taís Araújo, Daniela Nascimento, Monica Iozzi, Ingrid Guimarães e Heloísa Périssé. Mesmo com estes grandes chamarizes e nomes de peso envolvidos, não significa que o resultado final é satisfatório.
A história é centrada na dupla de ratos Vini (Santoro) e Tom (Adnet), que conseguem entrar de penetras na Arca de Noé durante o dilúvio. Só que eles não esperavam ter de enfrentar uma rebelião comandada pelo leão Baruk (Ramos), cujo desfecho será decidido em uma competição musical.
O roteiro escrito por Sergio Machado (que também cuida da direção com Alois Di Leo), em parceria com as próprias Guimarães e Périssé, parece ter sido concebido dentro de uma realidade paralela, pois em momento algum parece estarmos falando sobre uma história bíblica. Muito menos voltada para o público infantil
A começar que o linguajar e discussões apresentadas pelos personagens não batem com o contexto, principalmente se tratando de uma história para crianças. Durante determinado ponto da trama, existem inserções com críticas políticas e sociais, que também não são pertinentes para estas. Embora os adultos compreendam, não se trata de um projeto para eles.
Porém, este não é o único problema desta produção. Os traços das animações parecem terem sido concebidos às pressas, e isso fica comprovado nas sequências que envolvem vários personagens em cena. Além de não conseguir enxergar nada direito, tudo se assemelha aos frames de um game do Playstation 1.
Com relação a inserção das canções de Vinicius, a grande maioria tem apenas seu refrão sendo tocado, cuja sensação é que estamos vendo um primo pobre do divertido “Sing”.
Em comparativo com o “Noé” de Darren Aronofsky, onde foi retratado como um esquizofrênico, o esquizofrênico pela arca aqui parece um velho senil e desligado. Sem ter controle sobre nada quase, não existe aquela conexão religiosa e respeito que ele transparecia.
“Arca de Noé” é um deslize feio do nosso cinema, pelo qual não faz jus ao legado de Vinicius de Moraes e joga no lixo sua homenagem e carinho por uma das mais populares passagens bíblicas.