Crítica - A Barraca do Beijo - Engenharia do Cinema
Em meados de 2019 foi lançado pela Netflix o longa “A Barraca do Beijo“, que, de imediato, se transformou nos maiores sucessos da plataforma. Inspirado no livro de Beth Reekles, a história era bem simples onde temos dois melhores amigos de infância, Shelly (Joey King) e Lee (Joel Courtney). Inseparáveis e com uma série de regras sobre suas convivências, tudo é colocado em cheque quando aquela começa a se envolver com o irmão deste, Noah (Jacob Elordi).
Legal, mas onde entra a “barraca do beijo”? Ela é uma invenção dos dois amigos para a sua turma conseguir dinheiro para a festa de suas formaturas no colegial. Algo bastante estranho e desconexo com a realidade, mas acabamos relevando por se tratar de um filme para adolescentes. Mas o roteiro de Vince Marcello (que também assina a direção) procura pegar o máximo de situações conhecidas de produções a lá John Hudges (tanto que há uma participação da própria atriz Molly Ringwald, de “O Clube dos Cinco“). Pra quem já conhece o mínimo deste estilo ou cresceu vendo este tipo de filme, dificilmente conseguirá comprar o filme de Marcello em menos de 20 minutos.
Com diversas piadas envolvendo puberdade da protagonista vivida por King, o roteiro extrapola ao ficar repetindo elas várias e várias vezes (perdi as contas de quantas vezes forçam em brincar com a evolução do seu corpo e como ela não contorna isso) fazendo aos poucos a trama ficar cansativa. “Ahh Gabriel, mas isso é normal na vida de uma adolescente!”, estamos falando de um filme de ficção e não de uma vida real. Haviam várias situações para serem exploradas ali e não havia a necessidade do roteiro ser preguiçoso neste ponto.
Agora o principal: o trio protagonista, realmente possui uma química plausível? Devo confessar que sim! Parece que estamos retratando um trio que já se conhece há diversos anos e a relação dentre eles soa cada vez mais real dentro do contexto.
“A Barraca do Beijo” é mais um exemplo que a Netflix apela apenas para os atores protagonistas e esquece que para conceber uma comédia romântica adolescente tem de haver um roteio mais bem elaborado e menos clichê possível.
Gabriel Fernandes: Engenheiro de Computação, Cineasta, Crítico de Cinema e agora Radialista na Rádio RVD, resolveu compartilhar seu conhecimento sobre cinema com todos aqueles que apreciam essa sétima arte.