Crítica - Carlinhos & Carlão - Engenharia do Cinema
Previsto para ser lançado nos cinemas, a comédia nacional “Carlinhos & Carlão” acabou sendo vendida para a Amazon por conta da pandemia e lançada no catálogo do Prime Video. Dirigida por Pedro Amorim (“Mato Sem Cachorro”), esta é uma daquelas produções nacionais que possui uma premissa muito boa, mas, quando chega na finalização do produto em si, não consegue demonstrar um desfecho satisfatório.
Imagem: Downtown Filmes (Divulgação)
A história gira em torno de Carlos (Luis Lobianco) que, desde a infância, foi doutrinado com o irmão (Claudio Mendes) pelo seu pai (Otávio Augusto) para não aceitar nenhuma atitude homossexual em sua volta (independente de qual seja). Porém, após seu guarda-roupas quebrar, ele acaba adquirindo um novo e, ao ser jogado para dentro dele, acaba obtendo “poderes” que lhe fazem assumir a personalidade de um homossexual durante à noite.
Imagem: Downtown Filmes (Divulgação)
Com uma premissa que remete totalmente a clássica música “Maria Sapatão, de noite é Maria e de dia é João!”, o roteiro, de Carolina Castro e Célio Porto, possui um plano de fundo relativamente bom. Apresentando uma família, cujos patriarcas são homofóbicos e normalizando comportamentos agressivos diante destes, o filme é dividido em duas camadas. A primeira é fazer piada de algumas situações destas (mas nada ofensivo) e realmente funcionam, mas, na segunda, que mostram às sérias consequências (que vão de agressões físicas e verbais), a narrativa não consegue estabelecer aquela veia dramática necessária.
Um exemplo disso é a tensão que é criada no penúltimo arco, que é completamente jogada fora e já pula para a finalização do filme (ao invés de abordar mais adentro o assunto e usar como arma de reflexão ao espectador). Felizmente o carisma de Lobianco consegue encarnar a persona digna deste tipo de filme, além de possuir um timing cômico ótimo (com destaque para as transformações dele, que você denota como ele facilmente muda da água para o vinho).
“Carlinhos & Carlão” é o típico longa nacional que tinha a faca e o queijo na mão para abordar um assunto sério, com uma grande reflexão em seu desfecho. Porém, opta pelo caminho fácil e acaba sendo apenas uma simples comédia brasileira.
Gabriel Fernandes: Engenheiro de Computação, Cineasta, Crítico de Cinema e agora Radialista na Rádio RVD, resolveu compartilhar seu conhecimento sobre cinema com todos aqueles que apreciam essa sétima arte.