Crítica - Boca de Ouro (2019) - Engenharia do Cinema
Lançado em 1963, o longa “Boca de Ouro” foi um dos marcos de um cinema nacional que estava começando a ser reconhecido pelo mundo. Baseado em uma história criada por Nelson Rodrigues, com direção de Nelson Pereira dos Santos (a quem este filme é dedicado), este remake é a terceira versão da clássica história do magnata residente no bairro de Madureira, no Rio de Janeiro, conhecido como Boca de Ouro (por ter todos os seus dentes banhados a ouro). Dirigida por Daniel Filho (que participou do longa de 63 e aqui também faz uma ponta), a nova versão consegue trazer para a nova geração uma prévia do que eram as histórias de Rodrigues.
Imagem: Globo Filmes (Divulgação)
A história tem início com o misterioso assassinato de Boca de Ouro (Marcos Palmeira), criando uma situação sem respostas na região onde ele reside. Então, o jornalista Caveirinha (Silvio Guindane) segue as ordens de seu editor-chefe e sai na busca de uma matéria sobre o que pode ter motivado o seu assassinato. Para isso, ele resolve ir entrevistar a ex-amante daquele, Dona Guigui (Malu Mader), com o propósito de tentar saber as possíveis motivações para o crime.
Imagem: Globo Filmes (Divulgação)
É inegável que neste filme o enorme talento por trás da produção é o ator Marcos Palmeira, que segura grande parte do filme nas costas com sua excelente atuação. Seus olhares com toques de sarcasmo e insanidade transpõem diversos sentimentos no espectador, que fica quase impossível prever as suas futuras atitudes. Porém, quando ele se junta com uma de suas amantes, Celeste (Lorena Comparato), parece que estamos vendo um romance da Arlequina com o Coringa (na versão de “Esquadrão Suicida“). Funciona, mas a referência é mutua.
Com relação a direção de Daniel Filho, ele sempre procura deixar a narrativa dominar no maior clima de suspense possível e não interrompe em nada com alívios cômicos (em grande parte por intermédio do ator Guilherme Fontes, que vive o marido de Guigui), muito menos com arcos fora de contexto. Conseguimos adentrar, com maestria, no suspense apresentado, principalmente por conta dos olhares dos atores (sem exceção, já que todos conseguem transpor o medo e respeito por Boca).
“Boca de Ouro” foi uma grata surpresa que o cinema nacional nos promoveu nesta época de reabertura das salas de cinema, onde merecia ter um destaque maior com o público.
Gabriel Fernandes: Engenheiro de Computação, Cineasta, Crítico de Cinema e agora Radialista na Rádio RVD, resolveu compartilhar seu conhecimento sobre cinema com todos aqueles que apreciam essa sétima arte.