Entrevistamos Juliano Vasconcellos, fundador do famoso Blog do Jotacê - Engenharia do Cinema
Os cinéfilos que colecionam Blu-Rays e DVDs já ouviram falar (pelo menos uma vez na vida) sobre a existência da página Blog do Jotacê. Criada pelo arquiteto Juliano Vasconcellos, há mais de 15 anos, esta vem ganhando cada vez mais notoriedade e carinho por causa de ser o principal nome na luta em prol dos lançamentos de filmes/séries em mídia física. Em uma era onde muitos definem o setor como “morto” devido aos vários serviços de streaming, Juliano (carinhosamente conhecido como Jota) vem realizado diversas matérias, e abraça todas e quaisquer ações que os colecionadores lhes apresentam para laçarem algum titulo em mídia física (vide a nossa primeira e recente ação para lançarem “Liga da Justiça de Zack Snyder”, em DVD/Blu-Ray).
Com duas lives semanais em seu canal do Youtube, onde a primeira sempre ocorre nas segundas e ele faz questão de dedicar a mesma exclusivamente para apresentar a coleção de algum seguidor. Rotulada como “A Hora do Colecionador“, o momento é de total descontração e discussão sobre como o convidado cuida e trata com amor suas edições.
Já a segunda ocorre sempre às sextas-feiras, à partir das 19 horas e normalmente é a mais balada e importante, pois além de trazer várias notícias da semana em volto à mídia física no país (inclusive lançamentos em primeira mão), é a hora que toda a comunidade de colecionadores se junta para debaterem diversos assuntos. Sempre acompanhado também de outros grandes nomes na comunidade como Tailan Dutra, Celso Menezes, Felipe Fonseca, PC e os mais diversos convidados, muitos tópicos polêmicos já foram tratados por eles como a desistência da Disney em lançar mídia física no Brasil, a péssima edição de Parasita e a mais recente foi a participação do cineasta Kleber Mendonça Filho que apareceu para relançar o seu clássico filme, “O Som Ao Redor“, em Blu-Ray.
Apesar do número do Blog cada vez mais crescer, e várias lojas fazerem questão de fazer seus anúncios em primeira mão como a FamDVD, The Originals, Bazani, Versátil, Colecione Clássicos (responsável pelas ótimas edições rotuladas de “Obras Primas do Cinema”) e até mesmo a gigante Amazon (cuja parceria possui para nós o cupom JC10, que dá 10% de desconto nos DVDs e Blu-Rays, em geral), a batalha para trazer vários títulos inéditos no país continua cada vez mais acirrada (já que alguns executivos não acreditam no potencial deste mercado).
Simpático e atencioso com todos, Jota topou realizar uma entrevista para nós do Engenharia do Cinema. Nela ele fala mais detalhadamente como surgiu a ideia do Blog e, como a luta para trazer determinados títulos ainda continua bastante complexa no Brasil:
Engenharia: Como surgiu a ideia para criar o Blog do Jotacê?
Jota: Surgiu pois eu criava conteúdo para uma comunidade no Orkut desde 2005, porém tudo o que se postava lá não era indexado pelo Google, e tudo ficava restrito para os membros da comunidade. Ao postar as críticas, fotos e vídeos em um blog aberto e indexável, muito mais pessoas tiveram acesso ao tema coleção de mídia física.
Engenharia: Desde a criação do Blog, você imaginava que a questão da mídia física iria decair gravemente em questão de poucos anos no Brasil? Desde o fechamento das videolocadoras, a recente saída dos títulos da Disney (e uma possível dos atrelados a Solutions 2 Go) e agora o saldão “pra acabar” das Americanas, você ainda acredita que com a força dos colecionadores brasileiros, eles voltem atrás em algumas decisões destas algum dia?
Jota: Eu imaginava que as coisas seriam cada vez mais voltadas para um nicho específico, mas nunca onde nós estamos hoje em que penamos para uma tiragem de mil unidades seja vendida. Eu penso que agora é essa a tendência, e que infelizmente a nossa comunidade de colecionadores tende a diminuir ainda mais por conta de vários fatores, principalmente pela ausência de lojas físicas (tanto pela crise das livrarias quanto por esse fator das Lojas Americanas).
Jota em mais de uma apresentação de títulos de sua coleção (Reprodução da Internet)
Engenharia: Em meados de 2011, a Imagem Filmes não gostou de uma crítica que vocês fizeram em relação à péssima qualidade dos filmes em mídia física deles (que ainda continua acontecendo, infelizmente), e eles os bloquearam nas redes sociais. Em 2020 a comunidade enfrentou outro descaso bastante tenso também, com o lançamento problemático de “Parasita”, com a qualidade horrível e com um enorme pouco caso por parte dos fabricantes. Em meio a uma era onde nós colecionadores conseguimos falar diretamente com os fabricantes destes produtos, por que eles insistem em cometer esses mesmos erros por anos e anos (que ocasionou também a falta de interesse nos clientes também)?
Jota: Isso acontece principalmente porque alguns executivos envolvidos no mercado não entendem como funciona a lógica do colecionador, que é exigente e não aceita mais produtos de baixa qualidade. A Imagem Filmes é uma empresa importante, com diversos títulos de interesse do colecionador, mas que acabou não sabendo lidar com as críticas, pois seus produtos dificilmente tinham a qualidade que o colecionador esperava. Eles lançavam produtos para locação, em que as exigências sempre foram muito menores e os lucros muito maiores. A partir disso, mudar toda a filosofia da empresa para atender outro público não estava nos planos deles. A insistência no erro é que é o problema, a maioria dessas empresas não quis se esforçar para atender as expectativas do público colecionador, e isso é profundamente lamentável.
Engenharia: Recentemente tivemos o relançamento dos títulos da Fox, diversas edições de luxo da Obras Primas do Cinema (vide de “O Pianista”), e os exclusivos de lojas como a FamDVD e The Originals, são vistos como grandes vitórias da comunidade de mídia física. Até hoje, qual é o título que você define como a maior vitória? Qual titulo você ainda sonha com o lançamento em mídia física?
Jota: Duas coisas são bastante simbólicas dessa nova fase do mercado nacional de mídia física: a abertura da loja de DVD e Blu-ray da Amazon Brasil em 2019 e os exclusivos das lojas, iniciado com o relançamento do Blu-Ray de “A Bruxa” pela FAMDVD no início de 2020. O primeiro demonstrou que a mídia física não estava morta (como muitos pregam até hoje) justamente pelo simbolismo de uma empresa como a Amazon apostar forte nesses formatos. O outro mostrou um caminho até então inexplorado pelas lojas, e que até os estúdios duvidavam que poderia dar certo num primeiro momento. O título que eu sonho em mídia física é o filme brasileiro “Cidade de Deus”, que absurdamente até hoje não teve um lançamento em Blu-ray no Brasil (sendo que em outros países do mundo ele já foi lançado em ótimas edições). E acredito sim que esse dia vai chegar, para alegria de todos nós!
Gabriel Fernandes: Engenheiro de Computação, Cineasta, Crítico de Cinema, resolveu compartilhar seu conhecimento sobre cinema com todos aqueles que apreciam essa sétima arte.