Crítica - Chernobyl - Engenharia do Cinema
Confesso que quando vejo algum hippe excessivo em cima de alguma produção, já começo a desconfiar sobre a qualidade da mesma. O caso mais recente que me recordo foi em “13 Reason Why” e confesso que NÃO GOSTEI da série (não cheguei a escrever sobre a mesma por questões de tempo na época). Eis que o novo foco das atenções é a mini-série “Chernobyl”, lançada pela HBO logo após o término de “Game Of Thrones”.
Criada por Craig Mazin, a série procura mostrar os bastidores do acidente químico na indústria nuclear de Chernobyl, em 1986. Acompanhamos os minutos que antecederam o acidente e os dias e anos posteriores a este, onde o governo da, até então, União Soviética tentava a todo custo esconder a gravidade do acidente para o mundo e de que a expansão do vazamento nuclear fosse maior pela Europa. O fato foi tão devastador que até hoje não se sabe o número exato de vítimas, pois a contaminação não só afetou aqueles que trabalhavam na usina e tentavam conter o incêndio, mas também os moradores daquela cidade construída para as famílias dos funcionários. Hoje a cidade se tornou fantasma e absolutamente ninguém pode morar por lá até os próximos 1000 anos, pois ainda há contaminação no local.
Imagem: IMDB
Começo destacando a enorme dose de realidade na narrativa criada por Mazin e o diretor Johan Renck, pois vemos que eles já estão cientes que o espectador já sabe “por cima” o que ocorreu naquele local, mas não viu nada ocorrendo nos bastidores. É quando nos tornamos literalmente os espectadores do acidente. Vemos a tamanha ingenuidade dos civis e das pessoas de dentro da usina, pois nenhum deles acreditava na gravidade do acidente e estavam completamente despreparados para isso.
É quando que ele apela para as “subtramas” onde acompanhamos alguns personagens que simbolizam os problemas que a cidade enfrentou. Vemos um hospital que não sabia o que fazer com as vítimas de radiação e as pessoas que eram contratadas para derrubar as florestas, matar animais e desligarem os equipamentos dentro da usina. Mas é a ingenuidade deles nesses trabalhos que mexem com o espectador, pois cada capítulo os retrata muito bem.
Imagem: IMDB
A trama central é composta pelo especialista em Energia Nuclear Valery Legasov (Jared Harris) e o político Boris Shcherbina (Stellan Skarsgård). Eles não só estão lá para solucionar o problema da expansão nuclear pela União Soviética, como também servem para literalmente explicar para o espectador o que está ocorrendo. Sempre o segundo questiona o primeiro sobre alguma coisa e este o responde da forma mais plausível o possível (algo que muitas séries e filmes não fazem).
Mas ainda há duas subtramas centrais, pelas quais abordam outras duas perspectivas do fato. Com a cientista Ulana Khomyuk (Emily Watson), que representa todos os cientistas que auxiliaram a descobrir as verdadeiras causas do acidente, e Lyudmilla Ignatenko (Jessie Buckley), que é a mulher de um dos bombeiros infectados pela radiação e o acompanhou até seus últimos dias.
A retratação dos infectados realmente são impressionantes e o trabalho de maquiagem é incrível. Aquilo mexe conosco, espectadores, de uma certa forma, pelo qual o desconforto é enorme.
“Chernobyl” é sem duvidas uma minissérie que entrou para a história e dificilmente conseguirá ser superada tão cedo. Até agora não acredito que Craig Mazin foi o responsável também por essa icônica cena que cresci vendo em “Super-Herói: O Filme”:
Nota: 10,0/10,0
Gabriel Fernandes: Engenheiro de Computação, Cineasta, Crítico de Cinema e agora Radialista na Rádio RVD, resolveu compartilhar seu conhecimento sobre cinema com todos aqueles que apreciam essa sétima arte.