Crítica - Meu Nome é Gal - Engenharia do Cinema
Quando foi anunciada a cinebiografia da cantora Gal Costa, uma das principais vozes da Música Popular Brasileira (MPB), ela ainda estava viva e chegou a brevemente ter ciência de algumas coisas que seriam mostradas no mesmo. Porém, após seu falecimento em novembro de 2022, muitos começaram a ver este projeto como uma espécie de tributo ao legado da cantora, que quer você goste ou não, é um dos principais nomes da cultura brasileira.
Sendo vivida por Sophie Charlotte (que realmente está ótima na sua interpretação), temos um grave problema sobre como o cinema nacional está exercendo suas cinebiografias nos últimos anos. Depois de “Angela” nos apresentar absolutamente nada de relevante, sobre um dos casos mais polêmicos e revolucionários em relação ao feminicídio no Brasil (que por conta disso, várias leis começaram a ser alteradas), para dar espaço a um softporn pobre, “Meu Nome é Gal” troca este tópico por drogas e festas, ao não focar em um terço da vida da cantora.
Imagem: Paris Filmes (Divulgação)
O enredo mostra um recorte da vida de Gal Costa, quando ela começou a ser descoberta no mundo da música, no Rio de Janeiro, em meados dos anos 60, até os anos 70, época onde ela se tornou uma das principais vozes contra a ditadura militar. Sim, muitas passagens e situações da vida da própria, são deixadas de lado (afinal, estamos falando de um filme com cerca de 90 minutos).
Imagem: Paris Filmes (Divulgação)
A direção de Dandara Ferreira (que também interpreta aqui a cantora Maria Bethânia), fica todo momento idolatrando a cantora por intermédio de seus enquadramentos constantes no rosto, lábios (principalmente quando Charlotte está cantando, em um nítido Playback amador) e olhares, em torno de distintas situações. Essas, se resumem, em maioria, por festas regadas a drogas, bebidas e discussões sobre política.
Sim, a maior parte do longa se resume apenas a isso e outros momentos vergonhosos (como quando ela resolveu adotar o nome artístico de Gal Costa, que só perde para o Han Solo, em seu longa sobre sua origem). Isso sem citar, que além dela ser vendida como uma pessoa perfeita, não existe obstáculo ou dificuldade alguma em seu caminho/carreira nesta narrativa (muito menos o pavor da ditadura militar, não é transposto devidamente). A única coisa que é vendida como “problema grande” é ela não saber se portar diante das câmeras (algo que ela supera em um estalar de dedos).
Isso quando Ferreira não usa recursos pobres para fazer propagandas de patrocinadores do filme (como do nada, realizar um corte brusco em uma cena, para destacar um outdoor da Hering), cenas de arquivo mostrando a ditadura militar (sendo que basicamente não existe nenhum deles sendo mostrados nesta dramaturgia) e modas da época.
Mais bizarro que isso é você ter ótimas oportunidades de mostrar grandes nomes da música brasileira como Caetano Veloso (Rodrigo Lelis), Maria Bethânia, Gilberto Gil (Dan Ferreira), Rita Lee (Caroline Andrade), Tom Zé (Pedro Meirelles) e Dedé Gadelha (Camila Márdila), mas os coloca para fazerem absolutamente nada. Embora os três primeiros sempre demonstram um carinho por Gal (inclusive, mostra um Veloso sempre ciumento em relação a mesma), não há um aprofundamento destas relações.
“Meu Nome é Gal” é mais uma pobre cinebiografia do cinema nacional, que parece ter medo ao mostrar um pouco mais além sobre a vida de sua protagonista.
Muito bons seus comentários e críticas sobre os filmes! Gosto muito de acompanhar você aqui!!! Parabéns!!!