Crítica - Rebel Moon - Parte 1: A Menina do Fogo - Engenharia do Cinema
Há mais de 20 anos, o cineasta Zack Snyder tentou tirar do papel sua visão da franquia “Star Wars” e chegou a ter seu pedido negado por vários estúdios. Depois de sua sucedida parceria com a Netflix, por intermédio de “Army of The Dead” (lançado em maio de 2021), o estúdio autorizou a produção deste projeto dos sonhos de Snyder. “Rebel Moon” não possui um elenco muito conhecido pela maioria do público, mas nitidamente percebemos o seu trabalho ao desenvolver um universo totalmente novo, com suas tribos, costumes, lutas e personagens excêntricos.
“Rebel Moon – Parte 1: A Menina do Fogo” apela ao tentar apressar sua narrativa e deixar a maioria das coisas em aberto para possíveis spin-offs e a própria segunda parte (que chegará na Netflix em 19 de abril). Sim, estamos falando de mais um filme que serve como uma vitrine para o que iremos ver nos próximos anos, em torno deste universo. Infelizmente, não era o momento para isso.
Imagem: Netflix (Divulgação)
O enredo se passa em um cenário futurista, onde a história tem como foco a lua de Veldt, uma colônia pacífica em uma galáxia distante. Após o exército de Atticus Noble (Ed Serkin) começar a ameaçar o local, a misteriosa Kora (Sofia Boutella) começa a montar uma equipe de rebeldes para impedirem a tirania de Noble e o pior.
Imagem: Netflix (Divulgação)
Em menos de 20 minutos e com pouca coisa ainda explorada, o enredo já coloca Kora na procura de outros rebeldes para esta batalha, que não fica bem claro o que motiva cada um deles. Com uma metragem de quase 130 minutos, em cada passagem dela nos mundos destes futuros comparsas, fica a sensação que “futuramente vamos voltar lá, para conhecer mais sobre este povo e os motivos que os levaram a combaterem Atticus”.
Inclusive, os últimos 40 minutos parecem terem sido editados às pressas (até mesmo por alguém que deveria estar mais focado no seu lanche de fast-food, ao invés do que estava fazendo na sala de edição), com alguns personagens como Titus (Djimon Hounsou), Bloodaxe (Ray Fisher), Gunnar (Michiel Huisman) e o andróide Jimmy (dublado por Anthony Hopkins), serem pouco explorados como deveriam (mas ressalvo que há chances deles aparecerem mais na parte 2).
Porém, para se criar um enredo desta magnitude, uma história precisa ser contada primeiro, como no clássico “Os Sete Samurais”, de Akira Kurosawa (que foi uma referência para este longa), e na própria franquia “Star Wars”, antes de partir para o ato da batalha final. Infelizmente, o roteiro deduz que nós já sabemos o que está acontecendo, quando o próprio filme funciona como “cartão de visitas” para este universo.
Embora já estamos cientes que este filme não só terá uma segunda parte, como também haverá outro corte na visão do próprio Zack Snyder (assim como ocorreu em “A Liga da Justiça e “Watchmen”), isso tudo não chega a ser uma desculpa e sim uma decisão não muito sábia, uma vez que o material inicial desta primeira parte, já possui muito potencial.
Inclusive, a própria atriz Sofia Boutella tem o estilo das musas do cinema de ação dos anos 2000, como Milla Jovovich (“Resident Evil”), Angelina Jolie (“Tomb Raider”) e Charlize Theron (que já contracenou com ela em “Atômica). Ela tem peso para contracenar em uma produção deste gênero, mas acaba sendo pouco explorada.
E fica perceptível o cuidado de Snyder neste projeto, por conta da fotografia e dos efeitos visuais excelentes (inclusive podem ser indicados ao Oscar 2024), acompanhados de um trabalho sonoro e cenas de ação muito bem conduzidas (vide as lutas de Kora). Lembrando que o orçamento das duas partes juntas saiu por R$ 811,15 milhões, e é um valor relativamente baixo para este tipo de produção (para efeito de comparação, o último “Indiana Jones” custou R$ 1,45 bilhões). Reflita sobre isso, Mickey.
“Rebel Moon – Parte 1: A Menina do Fogo” termina sendo uma fraca abertura para este novo universo cinematográfico de Zack Snyder. Resta-nos esperar pelos próximos capítulos e torcer para que ele melhore mais.