Crítica | 'Anatomia de Uma Queda' pode apagar o pavio de 'Oppenheimer', no Oscar 2024 - Engenharia do Cinema
Depois de conquistar a Palma de Ouro no Festival de Cannes 2023, “Anatomia de Uma Queda” automaticamente começou a conquistar a atenção de todos da área do cinema e votantes de premiações. Mesmo roubando a cena em várias outras premiações, como na última edição do Globo de Ouro, a comissão francesa não acreditou no potencial do título e resolveu selecionar o drama “O Sabor da Vida” (com Juliette Binoche), que não foi um dos cinco selecionados a filme estrangeiro.
Enquanto o drama de tribunal da cineasta Justine Triet, não foi indicado para melhor direção, como também em filme, atriz para Sandra Hüller, montagem e roteiro original. Não hesito em dizer, que embora o escopo já seja conhecido por grande parte do público, é uma trama que possui uma bala na agulha para tirar Christopher Nolan e seu “Oppenheimer” da conquista do careca dourado.
Imagem: Diamond Films (Divulgação)
A história gira em torno da escritora Sandra Voyter (Hüller), cujo marido sofre um fatal acidente após cair do sótão de sua casa. Como era a única pessoa no local, ela se transformou na principal suspeita. Nos tribunais, ela terá de lutar não apenas para se defender, como também terá seus segredos mais obscuros revelados.
Imagem: Diamond Films (Divulgação)
Triet sabe que o cinema em geral já levou este tipo de história várias e várias vezes, então ela resolve focar em uma abordagem um tanto quanto diferente e inusitada. Para isso, o enredo não terá apenas o ponto de vista da própria Sandra, como de seu filho Daniel (Milo Machado Graner) que é cego desde os quatro anos. Ambos possuem um entrosamento enorme, como mãe e filho, mas é Graner (inclusive, seria justo tê-lo visto entre os indicados do Oscar em ator coadjuvante) que rouba a cena e a todo momento transparece ser um garoto cego.
Para mostrar estes pontos de vista, Triet usa a sutileza nos seus enquadramentos em momentos cruciais, como colocá-la junto de Daniel, quando ele observa sua mãe comentando algo crucial diante da corte (e que poderia ser perturbador para uma criança). Mesmo não apresentando nada grotesco visualmente, o teor violento e sexual está presente nestes diálogos.
Ao mesmo tempo que a vida deles vira uma verdadeira montanha russa, o enredo tenta nos transportar para aquele cenário e nos faz refletir sobre “o que faríamos se alguém que amamos passasse por isso?”. Por conta disso, Triet vai até o limite da insanidade para este tipo de produção, que vão desde discussões sobre a sociedade atual, mesmo de forma breve, como a imprensa pode afetar uma criança envolvida neste cenário.
“Anatomia de Uma Queda” vem merecendo o reconhecimento que vem recebendo, mas não chega a ser um filme de tribunal marcante como muitos outros.