Crítica | A Favorita do Rei - Engenharia do Cinema

publicado em:18/12/24 9:21 AM por: Gabriel Fernandes CríticasTexto

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Durante o período do polêmico julgamento entre Amber Heard e Johnny Depp, ambos enfrentaram uma verdadeira montanha-russa nas carreiras. Enquanto a primeira passou a viver uma vida no anonimato, o segundo aceitou o convite (ainda em 2019) da atriz e cineasta francesa Maïwenn, para estrelar o drama de época “A Favorita do Rei”.

Concebido na França e falado apenas neste idioma, pode-se dizer que foi um desafio redobrado para o veterano, onde ele o cumpriu com êxito. Mesmo com um lançamento fraco ao redor do globo, principalmente nos EUA, a produção chegou ao Brasil com exibições tímidas no Festival Varilux 2024.

A história gira em torno da jovem Jeanne (Maïwenn), que após aflorar seus desejos mais íntimos, mas sem perder sua classe cultural, passa a utilizar suas habilidades para começar a subir em classes sociais na França. Neste cenário, ela passa a se tornar a favorita do próprio rei Luís XV (Depp) e acaba sendo colocada para morar em Versalhes.

Em uma produção histórica como esta, os cineastas devem estar cientes que o público pode não conhecer os personagens, assim como o cenário que eles estão envolvidos. Por isso, o roteiro de Nicolas Livecchi, Marion Pin, Teddy Lussi-Modeste e da própria Maïwenn parece ter clara consciência. 

Inclusive esta passou a se dedicar neste projeto de forma pessoal desde 2006, ao assistir “Maria Antonieta”, de Sofia Coppola, e admirar a personagem Jeanne (então interpretada por Asia Argento). Então ela passou a estudar com firmeza a história da própria e desenvolver um projeto focado nela.

Isso é refletido desde o princípio, pois acompanhamos Jeanne desde sua infância, até o cenário onde conhece Luís XV. Sem apelar para a pornochanchada, a cineasta sabe até quais barreiras era possível explorar, sem se tornar algo ofensivo ou desconfortável para o público. Existe uma veia cômica, dramática, erótica e histórica, mas há um limite para cada uma delas.

Um claro exemplo é a sequência envolvendo a primeira noite romântica entre ambos, que usufrui dos diálogos para representar que a conexão deles estava prestes a nascer, ao invés de apenas inserir cenas de sexo. 

O mesmo pode-se dizer da sequência onde La Borde (Benjamin Lavernhe) ensina como funciona a monarquia francesa para Jeanne. Maïwenn poderia ter transformado o momento em algo pastelão, mas optou pela sutileza, afinal a própria Jeanne era culturalmente rica por conta dos livros.

Mesmo falando francês fluentemente, a atuação de Depp chega a lembrar da participação do Pelé no clássico “Fuga Para a Vitória”. Com poucos diálogos, ele apenas dita frases de efeito e trabalha mais suas feições com olhares que já vendem seus sentimentos.  

Embora o tratamento da cineasta em torno deste personagem seja o mesmo visto nas produções “Barry Lyndon”, “A Morte de Luís XIV” e da própria “Maria Antonieta”, pois há menos diálogo e mais ação.

“A Favorita do Rei” é um interessante retorno de Depp, que só demonstra que o ator ainda é capaz de ir além das habituais produções estadunidenses. 



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Engenheiro de Computação, Jornalista, Cineasta e Critico de Cinema, resolveu compartilhar seu conhecimento sobre cinema com todos aqueles que apreciam essa sétima arte.


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