Crítica | Pecadores - Engenharia do Cinema

Depois do sucesso de “Creed” e “Pantera Negra”, o cineasta Ryan Coogler começou a chamar a atenção dos cinéfilos e executivos. Em “Pecadores”, seu primeiro longa autoral em 12 anos, ele mostra que sabe contar uma história com temas delicados, ambientada em um cenário regado a blues, e não apenas ao terror vampiresco.
A história gira em torno dos irmãos gêmeos Smoke e Stack (Michael B. Jordan), que retornam à sua cidade natal para começar um novo império de bebidas em pleno auge da Lei Seca. Além de enfrentarem o cenário racista da época, eles não imaginavam que teriam de lidar com a ameaça de vampiros.
Durante os primeiros 50 minutos, o roteiro de Coogler nos insere, aos poucos, no cenário da época, com muito blues e folk. Apesar de terem trajetórias bastante diferentes na vida pessoal, Smoke e Stack conseguem prender facilmente a atenção do espectador.
O mesmo pode ser dito sobre os personagens que compõem a trama, também bem desenvolvidos antes que a ação, de fato, comece, com destaque para Sammie Moore (Miles Caton), Mary (Hailee Steinfeld), Delta Slim (Delroy Lindo) e Annie (Wunmi Mosaku).
Quando a ação e o suspense começam a ser inseridos, percebemos que há muito mais do que o horror provocado pelos vampiros. Inclusive, destaca-se a onipresença dos horrores da Ku Klux Klan, diante do líder vampiresco Remmick (Jack O’Connell).
Só que, quando a produção se aproxima do terceiro ato, o texto de Coogler começa a perder força ao apressar os acontecimentos e optar por soluções clichês e esdrúxulas, destoando do alto nível que vinha sendo proposto anteriormente.
Isso é prejudicial, pois não estamos falando de um filme “trash” ou “slasher”, mas de uma obra diferente e reflexiva (por incrível que pareça). Há muita ambiguidade nos diálogos e ações tomadas pelos personagens.
Um exemplo é que, durante o primeiro ato, acompanhamos um personagem e estabelecemos certa importância com ele, mas, quando ele morre, simplesmente não nos importamos com isso.
“Pecadores” termina como um satisfatório terror que mescla o presente e o onipresente, mas que poderia ter sido mais ácido em sua conclusão.
