Crítica | Emmanuelle - 2024 - Engenharia do Cinema

Lançado em 1974, o longa “Emmanuelle” se tornou um dos grandes clássicos do gênero softporn e alavancou a atriz Sylvia Kristel. Baseado no livro de Emmanuelle Arsan, foi popularizado no Brasil pelas madrugadas de sábado para domingo, no quadro Cine Band Prive, cujo foco era a exibição desse tipo de conteúdo.
Anunciado em 2022, o remake da produção contaria agora com a atriz francesa Noémie Merlant no papel-título e, segundo a própria diretora Audrey Diwan (“O Acontecimento”), teria um “olhar mais feminista”.
Como era de se esperar, temos mais uma refilmagem vazia, que tenta impor alguma lição de moral ao espectador, que via na clássica franquia apenas cenas gratuitas de sexo.
A história acompanha Emmanuelle (Merlant), que é contratada por uma empresa para avaliar um hotel em Hong Kong, cuja reputação não anda bem. Durante seu trabalho, ela começa a aguçar seu despertar sexual e se envolver em diversas aventuras sexuais.
Os primeiros 15 minutos realmente se assemelham ao clássico de Just Jaeckin, por conta da essência do softporn e da forma como é filmada a sequência de banho da protagonista. Só que tudo isso não passa de mera ilusão.
Em vez de vermos a protagonista em uma série de aventuras íntimas sórdidas, a acompanhamos como conselheira amorosa de um hóspede do hotel (Jamie Campbell Bower), ajudando a gerente do local (Naomi Watts) durante uma forte enchente e até mesmo proferindo frases de efeito sobre sua vida.
Sim, uma das personagens mais populares do cinema erótico foi transformada em um ícone do feminismo. Quanto ao sexo? Até em um episódio de “Game of Thrones” há mais nudez explícita do que neste filme.
Mesmo que Merlant esteja bem no papel, por conta do forte teor dramático inserido, ela já deixou claro que consegue exercer plausivelmente papéis com esse perfil desde “Retrato de uma Jovem em Chamas”.
Passando boa parte da trama tentando conquistar o misterioso Kei (Will Sharpe), o resultado final tenta chocar o espectador, mas acaba broxando por conta da decisão esdrúxula do roteiro.
O novo “Emmanuelle” mostra que mexer com obras antigas para inserir pautas atuais pode ser um erro grave e resultar em mais uma obra sem vida.
