Crítica - Jack Ryan (1ª temporada) - Engenharia do Cinema
O personagem Jack Ryan pode-se dizer que é um dos que mais sofreram distintas interpretações ao longo dos anos. Baseado nos livros de Tom Clancy, ele já foi vivido no cinema por Harrison Ford, Alec Baldwin, Ben Affleck, Chris Pine e agora nos seriados (e a maior empreitada da Amazon Prime até o momento) o manto caiu sobre John Krasinski (“Um Lugar Silencioso”). Para quem não conhece sua história, Ryan é um ex-militar que, após sofrer um fatídico acidente durante uma operação e passar por uma complicada recuperação, ele é contratado pela CIA para ser um dos contadores e agentes da mesma. Em cada história, Ryan tenta conciliar sua vida pessoal com seu romance com Cathy e suas missões que cada vez se tornam mais complicadas e perigosas.
Nesta série digamos que não pode ser um reboot, pois ela já começa com Ryan trabalhando na CIA, mas apenas como um mero contador (a parte mencionada no primeiro parágrafo aparece apenas em flashback, em um dos episódios). Até que após ele encontrar uma discrepância em um determinado depósito numa conta suspeita, ele tenta afirmar aos seus superiores que um atentado pior que o 11 de setembro está por vir.
Seguindo o mesmo caminho que o seu último longa (“Operação Sombra”) havia levado, as conspirações e conflitos na relação dos EUA com os países do Oriente Médio continuam englobando o personagem, assim como o medo constante das agências de espionagem em um próximo atentado de 11 de setembro ocorrer novamente é sempre mencionado pelos personagens. Essa ênfase realista é um paradigma válido perante a situação atual em que vivemos e tudo é bem trabalhado numa forma que não fica cansativo. Porém, em determinados momentos, a narrativa beira a intercalar três subtramas simultaneamente, onde vemos a correria de Ryan atrás dos terroristas, o mesmo arquitetando o plano e sua família que tenta adquirir exílio nos EUA. Obviamente que essas peças irão se encaixar, mas digamos que o terceiro arco é meio que “cansativo”, datado que os personagens são extremamente genéricos e a vontade de continuar vendo o protagonista da série em ação só cresce. Outro fator errôneo e meramente banal (onde só de saber que o nome de Michael Bay está envolvido já dá para deduzir o que é) se trata dos diretores fazerem um constante enquadramento de destaque sobre a bandeira dos EUA, sempre quando ela aparece e algum dos personagens que estão na naquela cena acabam soltando alguma frase de efeito banal típica de longas de ação (isso, ao meu ver, tira um pouco da força da série em alguns momentos).
Krasinski surpreende no papel, tanto que, para quem já o viu em seus últimos trabalhos, consegue ter uma noção que o cara não serve apenas para comédia, como também obtém sobriedade e talento pra esses papeis. As suas expressões de preocupação são constantes e isso o espectador consegue embarcar junto a ele nas façanhas. Seu parceiro de cena, vivido por Wendell Pierce, faz uma atuação pela qual não sabemos exatamente o que esperar dele durante a temporada, e isso acaba ajudando ainda mais no mistério. Quanto ao restante do elenco, não existem grandes méritos, a não ser “fazer o que tava sendo proposto pelo roteiro”.
Mesmo possuindo alguns clichês do gênero, essa primeira temporada de Jack Ryan foi realmente muito divertida e, como quem já conhece o personagem há certo tempo, digo que existe muito gás ainda para novas histórias virem com o decorrer dos anos.
OBS: Essa série está disponível APENAS no serviço streaming da AMAZON PRIME.
Nota: 7,5/10,0
Imagens: Reprodução da Internet.