Crítica - Marighella - Engenharia do Cinema

publicado em:10/11/21 10:45 PM por: Gabriel Fernandes CríticasGloboPlayStreamingTexto

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Carlos Marighella é uma personagem bastante polêmica no Brasil. Visto como herói por uns e terrorista por outros, ganhou uma cinebiografia nas mãos do agora diretor e roteirista Wagner Moura. Sendo alvo de polêmicas durante os últimos anos, por conta de problemas atrelados a Lei Rouanet e a abordagem do próprio Marighella (que na vida real é caucasiano, e não negro). Já aviso de antemão que este texto irá analisar a obra como um todo, por isso, não irei entrar a fundo em situações degradantes que este filme passou (e que são usadas como “marketing”).

Imagem: Globo Filmes (Divulgação)

A história foca nos últimos anos da vida do ativista político Carlos Marighella (Seu Jorge), que utilizava o terrorismo e a violência, para espalhar a sua mensagem para o Brasil, durante a ditadura militar. Realmente tudo é visto na perspectiva do próprio, ou seja, o enredo não faz um paralelo de “como o outro lado interpreta tudo”.

Imagem: Globo Filmes (Divulgação)

O grande problema de “Marighella” é seu roteiro extremamente preguiçoso e clichê em seus diálogos. O texto escrito pelo próprio Moura e Felipe Braga (da série “Sintonia”), parece ter sido feito por dois profissionais de primeira viagem, que apelam para frases de efeito e situações banais para representar o perfil de alguns personagens (e obter a atenção do espectador de qualquer forma, mesmo sendo em uma cena pela qual eles fazem coisas que caem em contradição neste diálogo). Isso sem citar que a maioria dos atores coadjuvantes tem seu mesmo nome usado para seus personagens, vide Humberto Carrão (Humberto), Jorge Paz (Jorge), Henrique Vieira (Frei Henrique) e muitos outros.

Um outro mero exemplo é a representação do policial Lúcio (Bruno Gagliasso), que foi um dos que caçavam Marighella pelo país. O roteiro lhe coloca em sua primeira cena matando dois negros e berrando frases racistas, para falar “este cara é malvado e racista”. O mesmo pode se dizer de Marighella, que em seu primeiro grande diálogo (logo no início do filme) berra várias frases de efeito e discursos que estamos cansados de ouvir.

É nestes momentos que vemos como realmente o Seu Jorge não foi a melhor escolha para este papel, pois ele presumidamente parecia apenas que estava lendo as suas frases e não transpunha presença ou até mesmo medo. Inclusive, nesta cena citada, vemos que enquanto ele está assim o seu contraponto é o veterano Herson Capri, e este realmente está dentro do personagem.

Apesar destes descuidos, Wagner Moura realmente é um grande diretor de cinema. Mesmo com uma curta passagem em Hollywood, até então, ele está aprendendo bastante várias técnicas que poucas produções nacionais estão usando em seus filmes. Seja através de um plano sequência desenfreado na abertura e em outras cenas de ação, ou até mesmo um momento de Pai e Filho (que claramente homenageia o trabalho de Barry Jenkins em “Moonlight“). Ele também é bastante sútil ao demonstrar os personagens que ele sente identificação, ao sempre posicionar a câmera de baixo para cima em Seu Jorge e da forma oposta em Lúcio (deixando nítido seu desprezo).

Mesmo sendo bom tecnicamente e com um roteiro bastante peculiar, “Marighella” acaba se tornando uma produção nacional que acabará caindo no esquecimento na mente do brasileiro, daqui alguns anos.

Gabriel_Fernandes

Gabriel Fernandes: Engenheiro de Computação, Cineasta, Crítico de Cinema, resolveu compartilhar seu conhecimento sobre cinema com todos aqueles que apreciam essa sétima arte.



A última modificação foi feita em:dezembro 19th, 2021 as 10:50


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